A campanha nacional de 2022 para celebrar o Dia Mundial de Conscientização do Autismo traz o tema “Lugar de autista é em todo lugar!”, com a hashtag #AutistaEmTodoLugar, pedindo inclusão em todos os aspectos, em todos os âmbitos e em todo lugar. A data é celebrada todo 2 de abril, criada em 2007 pela ONU (Organização das Nações Unidas), quando cartões-postais de todo o planeta se iluminam de azul — no Brasil, o mais famoso é o Cristo Redentor — para lembrar a data e chamar a atenção da mídia e da sociedade.
O número de referência mundial da prevalência de autismo é do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) dos EUA, que aponta 1 criança com autismo a cada 44 nascimentos nos números divulgados no fim de 2021. O Brasil não tem números oficiais e, neste ano, pela primeira vez teremos uma pergunta sobre autismo no Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Turma da Mônica e o Autismo
O cartaz oficial da campanha é estrelado pelo André, o personagem autista da Turma da Mônica, graças à parceria da Revista Autismo com o Instituto Mauricio de Sousa.
Em 2019, Mauricio de Sousa fez uma tirinha especial para o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, que é muito usada até hoje. O objetivo da data é alertar adultos e crianças sobre a importância de se informar a respeito do autismo, cada vez mais diagnosticado em todo o mundo por conta de maior disseminação de informação. Em parceria com a revista, toda edição da publicação traz uma história em quadrinhos inédita do André e a Turma da Mônica, já foram publicadas 5 histórias na revista, além da tirinha especial.
#AutistaEmTodoLugar
O tema deste ano — com a frase da mãe e ativista Fátima de Kwant: “Lugar de autista é em todo lugar!” — vem mostrar a importância de incluir as pessoas autistas nos mais diversos “lugares” da sociedade. O autismo tem um grande espectro de variedade e diversidade de pessoas e da maneira como o autismo caracteriza suas vidas, porém, todas elas, sem exceção tem seu lugar e o direito de estar e fazerem o que quiserem.
Espectro autista
Pode-se dizer que há vários tipos ou subtipos de autismo, pois o transtorno é caracterizado por déficits, de qualquer nível, em duas importantes áreas do desenvolvimento: comunicação social (socialização e comunicação) e comportamento (movimentos repetitivos e interesses restritos). O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), portanto, afeta cada pessoa de maneira única. Não há um autista igual ao outro — nem em gêmeos idênticos.
Estudos recentes (principalmente uma grande pesquisa científica publicada em 2019, com mais de 2 milhões de indivíduos, em cinco países) têm demonstrado que fatores genéticos são os mais importantes na determinação de suas causas (estimados entre 97% e 99%, sendo 81% hereditário), além de fatores ambientais (de 1% a 3%). Existem atualmente mais de 900 genes já mapeados e implicados como fatores de risco para o transtorno.
No Brasil, a “Lei Berenice Piana” — Lei 12.764, de 2012, que criou a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro do Autismo, regulamentada pelo Decreto 8.368, de 2014 — garante os direitos dos autistas e os equipara às pessoas com deficiência. A legislação, porém, saiu minimamente do papel até agora.
Como identificar o autismo?
Os sintomas podem variar de acordo com a criança, mas o mais importante é que sejam sintomas prejudiciais ao desenvolvimento e a qualidade de vida da criança e tenham impacto social. Comumente são observados problemas para se comunicar e demonstrar emoções. Assim como comportamentos repetitivos e dificuldade na adaptação às mudanças na rotina.
As crianças com TEA possuem formas diferentes de aprender, prestar atenção ou reagir às situações e acontecimentos. Inclusive, as habilidades de aprendizado, pensamento e resolução de problemas podem variar de superdotados até extrema dificuldade.
Se você quer saber como identificar o autismo, fique atento aos seguintes sinais:
- Atraso na fala;
- Repetição de sons ou movimentos, como bater as mãos e dizer mais de uma vez a mesma palavra;
- Baixo contato visual e poucas expressões faciais;
- Preferência por brincar sozinho, especialmente jogos estruturados e previsíveis;
- Angústia com mudanças, seja um novo alimento ou alteração na rotina;
- Dificuldade em apontar para objetos para demonstrar interesse;
- Hipersensibilidade ao toque, com dificuldade em ser abraçado e encostado;
- Interesse intenso e persistente em itens específicos, como parte de um brinquedo;
- Falta de interesse em outras pessoas e, quando há interesse, esse é inadequado, excessivo e atrapalha o relacionamento;
- Dificuldade para entender e demonstrar sentimentos;
- Impressão de ser surdo por não responder aos chamados, nem do próprio nome.
Estimativa: 2 milhões
Apesar da prevalência norte-americana de 1 a cada 44 crianças, que são referentes a uma pesquisa de 2018, com número de homens quatro vezes maior que o de mulheres, a ONU, através da Organização Mundial da Saúde (OMS), considera uma estimativa conservadora, de que aproximadamente 1% da população mundial esteja dentro do espectro do autismo, a maioria sem diagnóstico ainda.
No Brasil não sabemos a prevalência de autismo, temos apenas um estudo de prevalência de TEA até hoje, um estudo-piloto, de 2011, em Atibaia (SP), de 1 autista para cada 367 habitantes (ou 27,2 por 10.000) — a pesquisa foi feita apenas em um bairro de 20 mil habitantes daquela cidade. Segundo a estimativa da OMS, o Brasil pode ter mais de 2 milhões de autistas. O Censo 2022 poderá dizer o número de diagnósticos do país, não o número total de pessoas autistas.
Procure o auxílio de um especialista
Reconhecer o Transtorno do Espectro Autista nem sempre é fácil, uma vez que existem diferentes graus de autismo e nenhum exame complementar essencial para o diagnóstico. Assim, é fundamental a avaliação de um especialista para se obter um diagnóstico preciso.
Apesar de ser uma condição sem cura, por não se tratar de uma doença e sim de um transtorno, é possível realizar intervenções para melhorar o desenvolvimento e a qualidade de vida da criança. E, o quanto antes for descoberto, maiores são os estímulos para que o autista desenvolva habilidades e trabalhe suas limitações.
No Pará existe o Centro Especializado em Atendimento do Autismo (Cetea), o Centro Integrado de Inclusão e Reabilitação (CIIR) e o Núcleo de Atendimento ao Transtorno do Espectro Autista (Natea), todos ligados a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa). Os profissionais mais indicados para analisar o desenvolvimento da criança ou até mesmo do adulto é o neurologista e o psiquiatra, além do pediatra especializado na área.
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