Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil ocupou uma posição estratégica vital para os interesses militares dos Aliados. O que poucos sabem é que, antes mesmo de se tornar aliado dos Estados Unidos, o país esteve na mira de um plano de invasão militar norte-americana. Esse plano secreto, conhecido como Plan Rubber, poderia ter mudado radicalmente o rumo da nossa história — e o Pará, em especial, teria um papel central nesse conflito que nunca aconteceu.
O Brasil na mira da guerra
No início da década de 1940, o Brasil ainda adotava uma postura de neutralidade. O presidente Getúlio Vargas mantinha relações diplomáticas com os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), mas também negociava com os Aliados (liderados por Estados Unidos e Reino Unido), tentando extrair vantagens de ambos os lados.
Essa posição ambígua incomodava profundamente o governo dos Estados Unidos, que via no território brasileiro — especialmente no Nordeste e na região amazônica — uma rota essencial para o transporte de tropas e suprimentos rumo ao Norte da África e à Europa. A localização geográfica do Brasil transformava o país em uma peça-chave no xadrez da guerra.
O “Plan Rubber”: uma invasão que quase aconteceu
Diante da incerteza sobre a posição brasileira, o governo norte-americano elaborou, entre 1941 e 1942, o chamado Plan Rubber — um plano de invasão militar ao Brasil, caso o país se recusasse a cooperar com os esforços aliados.
O objetivo do plano era simples e direto: ocupar rapidamente regiões estratégicas, como os portos e aeródromos de Natal, Recife, Salvador, Fortaleza e Belém, garantindo o controle logístico do Atlântico Sul. A ação previa o envio de fuzileiros navais, aeronaves e esquadrões de combate para desembarcar e estabelecer domínio sobre essas áreas.
Apesar de Natal ser considerada o principal ponto de interesse — e posteriormente receber o apelido de “Trampolim da Vitória” — Belém também figurava como peça importante no plano. Sua posição na foz do rio Amazonas e sua proximidade com o Caribe tornavam a capital paraense uma base natural de apoio para rotas aéreas e navais.
A virada: submarinos alemães e a entrada do Brasil na guerra
O destino do “Plan Rubber” mudou drasticamente em agosto de 1942. Naquele mês, uma série de ataques de submarinos alemães a navios mercantes brasileiros causou comoção nacional. Foram dezenas de mortos em alto-mar, e a pressão popular levou o Brasil a declarar guerra à Alemanha e à Itália, posicionando-se oficialmente ao lado dos Aliados.
Com a nova aliança formalizada, os Estados Unidos abandonaram o plano de invasão e passaram a cooperar diretamente com o governo brasileiro. A relação entre os dois países se intensificou rapidamente, principalmente no aspecto militar.
A presença americana no Pará e em Belém
Com o acordo firmado, tropas e equipamentos americanos começaram a ser enviados ao Brasil, e bases aéreas e portos passaram a ser utilizados pelas Forças Armadas dos EUA com autorização do governo Vargas. Belém, nesse contexto, ganhou destaque.
A cidade passou a receber aviões cargueiros, técnicos, militares e navios que faziam parte da logística de guerra no Atlântico e no Caribe. A Base Aérea de Val-de-Cans, que já existia, foi ampliada para dar suporte às operações. O cotidiano de Belém mudou: soldados americanos circulavam pelas ruas, produtos estrangeiros começaram a aparecer nas lojas e a cidade ganhou um papel que misturava bastidor diplomático e centro logístico internacional.
Além disso, o Pará se tornou uma fonte importante de borracha amazônica, matéria-prima estratégica para pneus e equipamentos militares, especialmente após o bloqueio do fornecimento do sudeste asiático.

Um plano esquecido pela maioria
Apesar de nunca ter sido executado, o Plan Rubber foi real — e está registrado em documentos oficiais dos Estados Unidos e em estudos de historiadores brasileiros. Ele revela como o Brasil, mesmo longe dos campos de batalha da Europa, esteve profundamente envolvido nos bastidores da guerra e nas decisões geopolíticas que moldaram o século XX.
A presença americana em solo brasileiro — especialmente no Norte — também mostra como regiões como o Pará tiveram protagonismo, ainda que pouco lembrado, em um dos momentos mais tensos da história contemporânea.
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