A secretária de Políticas Afirmativas do Ministério da Igualdade Racial (MIR), Márcia Lima, oficializou a sua saída da pasta nesta terça-feira afirmando enfrentar problemas quanto à autonomia do seu trabalho e as estratégias de comunicação do governo.
Márcia afirmou que o principal ponto para a sua decisão de deixar a pasta comandada por Anielle Franco foi perder a autonomia na formação de sua equipe.
— Eu sempre tive muita autonomia na gestão da Secretaria. Mas, recentemente, as decisões de composição da equipe passaram a ser tomadas pela alta gestão do ministério. Eu senti, então, que era o momento de pedir minha demissão. Definir o perfil da equipe não era mais uma atribuição minha.
Junto a isso, a agora ex-secretária cita avanços nas políticas raciais conduzidos por sua pasta que não foram comunicados de forma efetiva pelo governo federal. Na lista, aparece a revisão da lei de cotas no ensino superior, a renovação da lei de cotas no serviço público — que aumentou de 20% para 30% a reserva de vagas —, e o Plano Juventude Negra Viva, que busca a redução da vulnerabilidade dos jovens negros à mortalidade.
A secretária cita que o Plano Juventude Negra Viva é “sólido” e inclui políticas de monitoramento dos indicadores e até mesmo um guia de monitoramento da participação dos ministérios. Esse ponto, segundo ela, foi o mais frágil.
— O compromisso que os ministérios envolvidos no plano tem que ter. Tem que estar na voz de todos os ministros, na voz do presidente Lula. Quando eu falo de comunicar é um desafio para esse governo. Primeiro pelo número de ministérios que tem. E porque a pauta racial é uma pauta que tem ainda muita resistência para dentro do governo, para o legislativo. Construir uma pauta de igualdade racial é um enorme desafio.
Um outro destaque apontado Lima foi o desenvolvimento junto com a Secretaria de Comunicação Social (Secom) de uma estratégia de comunicação antifascista, que busca, inclusive, orientar a comunicação dos outros ministérios sobre o assunto.
Apesar de ter sido lançado em dezembro, o plano não foi divulgado. Ao falar sobre as limitações da comunicação do governo federal, Lima afirma que o governo é “muito melhor do que ele consegue demonstrar”.
— Uma das coisas mais importantes que a gente fez, e espero que ganhe mais espaço no governo, foi o grupo de comunicação antifascista, construído junto com a Secom […] Esse plano de comunicação pode ser um avanço real para esse problema de como falar da questão racial na gestão pública. É uma das conquistas que a gente tem e a gente nunca ouviu falar. Lançamos em dezembro do ano passado. Nunca vi uma linha sobre isso. É um enorme avanço e não ganhou visibilidade.
Recentemente, o presidente Lula mudou o comando da Secom, nomeando para a cadeira de ministro seu comunicador de campanha, Sidônio Portela. Ele assumiu o comando do ministério com a missão de impulsionar a comunicação das ações do governo em meio a queda de popularidade do presidente e de emplacar uma marca para o terceiro mandato do petista.
Apesar de negar relação com a queda de popularidade, Sidônio realizou recentemente um evento para apresentar todas as ações desenvolvidas pelo governo ao longo dos dois primeiros anos. O ministro chegou a afirmar na ocasião que a “impopularidade” era responsabilidade de “todos os ministros”.
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