Um dos fenômenos sociais que impõem um dos maiores riscos para o desenvolvimento econômico e social do Brasil é o crescimento da chamada geração “nem-nem”. A geração nem-nem se trata de um grupo volumoso de jovens brasileiros que nem estudam nem trabalham. Segundo dados de 2018 do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), 23% dos jovens entre 15 e 29, ou seja, mais de 11 milhões de jovens brasileiros não dedicam seu tempo ao trabalho ou ao estudo.
Dos mais de 11 milhões de jovens entre 15 e 29 anos que não estudam nem trabalham no Brasil, os chamados nem-nem, quase metade (48%, ou 5,6 milhões em números absolutos) estão nas regiões Norte e Nordeste. A participação é bem maior que os 38% que essas regiões representam do contingente total de jovens nessa faixa etária no país, segundo levantamento exclusivo da IDados para o Valor feito a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do terceiro trimestre de 2021, último dado disponível para o indicador regional.
Pobreza, mercado de trabalho menos dinâmico e escolas públicas mais precárias estão entre as razões apontadas por especialistas para explicar a incidência maior do fenômeno nessas regiões.
O relatório do Banco Mundial Competências e Empregos – Uma Agenda para Juventude indica que, apesar de o número de anos de estudos no país ter crescido na última década, a produtividade do trabalhador não evoluiu muito. O documento analisa dados de 2015 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do IBGE, onde um em cada cinco jovens não está na escola, em treinamento ou trabalhando.
Ainda segundo o Banco Mundial, esses jovens enfrentam a forma mais extrema de desengajamento em uma perspectiva de competências e emprego. Quase 14 milhões de jovens estudam ou trabalham, mas apresentam atrasos grandes de aprendizagem ou estão em empregos com pouca relevância em termos de competências exigidas pelo mercado, segundo levantamento do Banco Mundial.
De forma geral, os jovens que não concluíram o ensino médio são em sua maioria negros, com baixa renda familiar e são precocemente direcionados para o mercado de trabalho — quase sempre aquele, informal e precário. Até porque o desemprego, que hoje atinge 11,8% da população ativa (Pnad) é maior entre jovens, mulheres e trabalhadores sem nível superior. A taxa de desocupação entre pessoas com 14 a 17 anos é de 39% e entre os de 18 a 24 anos chega a 25,3%.
Para essa geração de excluídos, a escola não oferece atrativos e, quanto ao trabalho, só os precários, quando aparecem. É um contingente enorme que provavelmente estará fora do mercado formal por muito tempo e comprometerá a produtividade da mão de obra brasileira em médio prazo.
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