O laudo do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) da Polícia Civil do Rio mostrou que o spray, mencionado por uma engenheira que acusou um motorista de aplicativo de tê-la dopado, era apenas álcool.
O resultado da perícia vai de acordo com o depoimento prestado pelo motorista na 12ª DP (Copacabana), quando contou ter usado o líquido apenas para a higiene das mãos durante uma corrida entre São Conrado, na Zona Sul do Rio, e a Barra da Tijuca, na Zona Oeste. Um inquérito foi aberto e apura suposta difamação praticada nas redes sociais por ela contra ele.
No laudo de exame de material, assinado pelo perito Daniel Busquet de Souza, o profissional atesta que o líquido do borrifador é “álcool etílico” e nele “não foram encontradas substâncias de natureza tóxica, perigosa ou nociva”.
Na 12ª DP, onde o caso foi registrado pela mulher de 35 anos como fato atípico, o homem de 37 contou que, quando chegavam na Avenida Armando Lombardi, por volta de 10h45 do dia 2, ela pediu que ele parasse em um posto de gasolina. No local, a passageira teria dito que iria até à loja de conveniência comprar água, mas não teria demonstrado nenhum incômodo, e cancelou a viagem.
Segundo o motorista, ele já trabalha na profissão há cerca de 5 anos, já tendo realizado mais de 12 mil corridas nesse período e sendo classificado com pontuação 4,94 dentro de uma escala de até 5. O profissional contou que pegou a engenheira na Avenida Prefeito Mendes de Morais e a corrida seguiu “de forma normal”. Após parar o carro no posto, ele disse ter pensado que o cancelamento da viagem seria um “erro do sistema” e ainda a esperou “por um tempo”.
Em seu depoimento, afirmou que, durante todo o trajeto, a passageira estava no celular. Questionado sobre a utilização do álcool 70%, ele respondeu que tem o hábito de fazer isso em todas as corridas. Também na delegacia, a engenheira relatou que, a partir do momento que ele “passou o spray”, passou “muito mal”, com queda de pressão, princípios de desmaios e sensação de que o corpo estava quente.
A engenheira relatou ainda que, ao perceber que estava prestes a desmaiar, abaixou a janela em que estava. Segundo ela, o motorista teria questionado o motivo de abrir o vidro e a alertado de que o ar condicionado estava ligado. A passageira relatou ter “ficado com muito medo” e acreditado que ele poderia “ter lançado a substância para desacordá-la e fazer algo contra ela”.
— Acontece isso e ficamos com vergonha. Eu não iria fazer esse boletim de ocorrência. Publiquei nas redes sociais e mais de dez meninas me procuraram contando que foram vítimas desse mesmo modo. Mas elas não quiseram levar à frente. É um spray e as pessoas ficam em dúvida se foram dopadas ou não. Por isso, elas deixam para lá, pensam que serão chamadas de loucas. Eu até não iria registrar o boletim de ocorrência, mas é importante levar isso à polícia — disse a engenheira, em entrevista.
Na distrital, o motorista questionou: “Como faria isso através de algo sendo espirrado no veículo sem que fosse drogado junto, já que ambos estávamos sem máscara? Isso é um absurdo! Ela solicitou que eu parasse para ela descer e comprar uma água e eu fiz isso… e ela encerrou a corrida e me deixou esperando”.
Em nota, a Uber disse que “trata todas as denúncias com a máxima seriedade e avalia cada caso individualmente para tomar as medidas cabíveis”. A empresa destacou que “permanece com seu canal de ajuda sempre aberto para oferecer suporte e receber denúncias pelo aplicativo e informa que segue à disposição das autoridades para colaborar com as investigações, na forma da lei”.
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