PORTUGAL – Casos de xenofobia, discriminação e racismo nas universidades e escolas de Portugal são antigos e vem se tornando cada vez mais frequentes. A diferença é que nos dias de hoje, os casos vem sendo mais relatados e denunciados. As denúncias, ainda que muito lentamente, estão começando a dar resultados.
Recentemente, um professor da Universidade do Porto foi denunciado por alunos após dizer algumas frases machistas e xenofóbicas, como “brasileiras são mercadoria”.
O professor Pedro Cosme Vieira, da Faculdade de Economia, teve sua demissão requisitada pelo senado da instituição. A decisão, aprovada pela maioria do órgão, foi publicada em despacho no Diário da República no final de fevereiro.
Antes de concordar e publicar a demissão do professor, o funcionário teria sido suspenso por 90 dias devido aos infelizes comentários que foram denunciados em um documento assinado por 129 alunos em 2021.
Além desse caso, também corre na Universidade do Porto uma investigação que poderá acabar em punição para um outro professor da Faculdade de Direito. Ele se negou a entregar uma prova à aluna brasileira que estaria “muito destapada”, ou decotada. O caso teve ampla repercussão graças à denúncia online dos alunos do núcleo HeForShe da Faculdade de Economia.
Um relatório será entregue ao Ministério Público, mas entre os alunos há a expectativa sobre qual será a decisão da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL), que em 2020 suspendeu Francisco Aguilar após o professor de Direito ser denunciado ao comparar o feminismo ao nazismo.
Em 2019 o jornal O GLOBO publicou uma reportagem sobre o estudo das investigadoras brasileiras Juliana Chatti Iorio e Silvia Garcia. Elas revelaram discriminação a estudantes brasileiros em Portugal e falta de preparo dos professores diante do crescimento das matrículas de alunos de outros países.
Naquele mesmo ano, estudantes portugueses da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa colocaram um caixote com pedras e paus para atirar nos brasileiros. Em 2020, muros de escolas e universidades de Lisboa foram pichados com frases racistas contra estudantes brasileiros, maioria entre os estrangeiros.
Casos semelhantes acontecem em grandes cidades e instituições por todo o país. Durante a pandemia de Covid-19 foi criado um perfil numa rede social com frases xenófobas e machistas contra brasileiros e brasileiras. A autoria da página era creditada a um grupo da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
Na Universidade do Minho, em Bragança, alunos denunciaram no fim de 2021 um porteiro. Ele teria assediado alunas que habitavam a residência estudantil. Houve protesto, denúncias e a instituição acabou por prometer acatar algumas reivindicações dos alunos, como a criação de um grupo de combate ao assédio.
A estudante de filosofia Carlota Silva ajudou a criar a conta de Instagram @denuncia.uminho, que tem 136 publicações com relatos de assédio. Ela afirma, com base em uma notícia do jornal universitário “ComUM”, que o caso foi arquivado em fevereiro por falta de provas.
“Não foi culpado por nada. Estamos a aguardar, porque não há comunicado se ele voltará a prestar os seus serviços como porteiro. Se os alunos se sentem seguros? Não. As vítimas estão a sofrer porque não houve uma continuação do processo como era esperado”, lamentou Silva.
Comentários