De acordo com informações do portal UOL, um inquérito instaurado pela Polícia Federal e Polícia Civil de São Paulo mostrou que investigados por suspeitas de lavagem de dinheiro de integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) são proprietários de ao menos 45 imóveis de luxo só no Tatuapé, a maioria deles no Jardim Anália Franco.
O bairro localizado na zona leste de São Paulo se tornou desde fevereiro de 2018 o epicentro de um dos maiores conflitos sangrentos envolvendo a maior facção criminosa do país pela disputa de dinheiro e poder. A região se tornou o endereço de chefes da organização e está marcado por inúmeros assassinatos.
A Polícia Civil descobriu que apenas um dos investigados tem cerca de 95 imóveis em seu nome. Dos 95, 25 ficam no Tatuapé. Os outros estão espalhados por outros bairros paulistanos; em Sorocaba, no interior; e também em Bertioga, Guarujá e Praia Grande, no litoral paulista.
Um alvo, um homem de 47 anos, se apresentou como engenheiro e, em depoimento, alegou que é construtor na zona leste e que vários imóveis têm matrículas no nome dele, mas que não são de sua propriedade e funcionam como caução, ou seja, garantia para transações imobiliárias.
A Polícia Civil já sabe que o alvo que se apresentou é amigo do sargento Farani Salvador Freitas Júnior, recolhido no Presídio Militar Romão Gomes por suspeita de ser o mandante do assassinato do cabo Wanderley Oliveira de Almeida Júnior, 38, morto a tiros em Itaquera, na zona leste, em fevereiro de 2020.
No nome do sargento também foram encontrados dois apartamentos no Tatuapé. Segundo o DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), o cabo Wanderley descobriu na época que Farini ganhava cerca de R$200 mil por mês de narcotraficantes e, por esse motivo, acabou sendo assassinado.
Farini é acusado de ser pistoleiro do PCC e de ter trabalhado na escolta particular de narcotraficantes do Tatuapé ligados à facção criminosa. O PM também é investigado pelo DHPP por homicídios registrados no mesmo bairro envolvendo os próprios integrantes da organização.
Os advogados do sargento defendem que ele não faça parte do PCC, não é pistoleiro, nunca recebeu dinheiro de narcotraficantes e não mandou matar o cabo Wanderley. Segundo eles, Farani sempre foi um PM exemplar, com comportamento excelente e recebeu vários elogios ao longo da carreira.
Outro inquérito da Polícia Federal sobre lavagem de dinheiro envolvendo pessoas ligadas ao PCC mostra que três alvos mais importantes na investigação têm dezenas de empresas de fachada e postos de combustíveis. Todos eles moram em edifícios de alto padrão no Jardim Anália Franco.
A PF intensificou ainda mais as investigações em fevereiro de 2018, logo após as mortes de Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca. Ambos eram da alta cúpula do PCC e foram assassinados a tiros na região em Fortaleza, no Ceará.
O narcotraficante Wagner Ferreira da Silva, conhecido como Cabelo Duro, foi acusado de ter planejado e participado das mortes de Gegê e Paca, sendo assassinado uma semana depois desse homicídio duplo. O crime aconteceu na porta de um flat na Rua Eleonora Cintra, no Tatuapé, onde ele costumava ficar hospedado.
O Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), unidade da Polícia Civil, apurou em mais um inquérito sobre lavagem de dinheiro que Cabelo Duro, embora costumasse se hospedar no flat, possuía uma empresa e dois apartamentos no Tatuapé.
A vítima mais recente do conflito sangrento assassinada no bairro é Anselmo Becheli Santa Fausta, 38 anos, mais conhecido como Magrelo ou Cara Preta. Ele foi morto a tiros junto com seu motorista Antônio Corona Neto, o Sem Sangue, em 27 de dezembro de 2021, na rua Armindo Guaraná.
Cara Preta era conhecido nos meios policiais de “O dono do Tatuapé”. Investigadores do Deic e do DHPP pediram anonimato, e disseram à que o narcotraficante era proprietário de restaurantes, casas de shows e outras empresas e morava em um apartamento milionário no bairro.
Cinco pessoas estão sendo investigadas pelo assassinato de Cara Preta, também moram no Tatuapé. Duas delas foram indiciadas por lavagem de dinheiro e moram no mesmo condomínio, no Jardim Anália Franco. O edifício tem um apartamento por andar.
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