Na pressa – só pode ser; não há outra explicação – de divulgar as ações do Estado e a agenda do governador Helder Barbalho, a propaganda do governo parece ter esquecido o motivo de o Pará ser “o único convidado” a participar do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, aliás, como vem ocorrendo com outros “convites” internacionais.
A realidade é que o Pará é o Estado que mais desmata no Brasil (45% em 2020 e 37% em 2021 de toda a Amazônia Legal) e o que mais emite gases de efeito estufa (15,18% em 2019 e 19,39% em 2020).
A Agência Pará tenta divulgar e explorar, obviamente, em favor governo do Estado, esse tipo de participação do governador como se fosse algo de outro mundo, ou como se o fato de ser o “único” convidado o tornasse exemplo de administração, inclusive em âmbito internacional. Não se deve menosprezar a deferência e a importância do convite, que também representa uma forma de saber o motivo dos desmatamentos e o que o governo faze para mitigar seus efeitos.
O problema é que, nesses eventos, sua excelência o governador costuma dizer que “o Pará está fazendo a sua parte” e que o desmatamento é de responsabilidade do governo federal, ou seja, em português claro ou para inglês, sai da reta. E diz isso sustentado na afirmação de que o governo estadual só tem competência sobre 30% do seu território – os 70% restantes, como afirma, são de competência federal, e é justamente “onde ocorre o desmatamento”.
“O Estado ou eu”
O difícil é explicar à plateia internacional que ele, Helder Barbalho, é o governador do Pará que não desmata; quem desmata é o outro Pará, aquele “governado”, segundo a lógica de Helder, por Bolsonaro. Ou seja, o governador defende e coloca em prática a famosa “teoria do empurra”, que em outras palavras diz o seguinte: o que for positivo é de minha competência; o que for negativo é da competência de outro.
O material de divulgação distribuído pela Agência Pará sobre a viagem à Suíça traz algumas pérolas atribuídas ao governador Helder Barbalho – uma, inclusive, que não livra nem a cara do pai, Jader Barbalho, governador do Pará duas vezes. Na verdade, Helder só faltou dizer que está criando um novo Estado. O discurso de sua excelência transborda o próprio ego e remete à célebre frase de Luís XIV, rei da França, coincidentemente também conhecido como “Rei Sol”: L’État c’est moi (o Estado sou eu).
Começo, meio e fim
O chefe do Executivo reforça que “O Pará tem uma história a partir de 2019 de esforço sério para mudar a equação econômica tradicional da Amazônia, que sempre foi caracterizada por um viés predominantemente predatório, a exemplo da queda do desmatamento, que reduziu 11%, o que demonstra uma política sendo implantada com resultados obtidos”. Traduzindo a fala: nada foi sério, nem efetivo e nem real em relação ao combate do desmatamento, exceto a partir de 2019 – já no governo dele. O “antes” não passou de “faz de conta”.
Meu quintal preferido
Os 11% de redução do desmatamento mencionada pelo governador em seu discurso deve ser na fração de 30% do Pará imaginário dele. No Pará real, o desmatamento, de 2018 a 2021, cresceu 85%, saindo de 2.840 km2 em 2018 para 5.257 km2 em 2021, de acordo com o Prodes-Inpe. Portanto, com toda essa “seriedade” na gestão ambiental do Estado, o governo do Pará, a partir de 2019, viu aumentar 2.417 km2 de desmatamento nos últimos três anos, o que desconstrói o argumento do governador ao dizer que a “história do esforço sério” começou em com ele, em 2019.
Parece que a plateia de Davos entrou no mato sem cachorro.