Com a guerra entre Ucrânia e Rússia, os brasileiros já estão sentindo alguns impactos, e ainda tem mais por vir. Os panificados, que já vinham numa crescente nos preços, e aumentaram 9,28% em 12 meses, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – devem ter altas mais fortes nas próximas semanas.
Os países são dois dos maiores exportadores de trigo do mundo. Os dois responderam por 29,1% das exportações dos últimos cinco anos-safra.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) afirma que o conflito entre os dois países interrompeu o fluxo de grãos na região, gerando grande incerteza no comércio global de grãos. A Ucrânia está com as operações portuárias suspensas desde 24 de fevereiro e o fluxo russo no Mar Negro é afetado por prêmios de seguros elevados para as embarcações.
Além dos conflitos, outro fator que tem atrapalhado a Rússia são as sanções aplicadas, o que deixa as operações muito mais difíceis de serem realizadas. A Rússia também está sobretaxando as exportações, à exceção dos países vizinhos que integram a União Econômica Euroasiática (UEEA). A reação foi a alta nos preços em todos os principais mercados.
“Neste cenário, em que a região está com a comercialização parada em função do conflito, o balanço do cereal, que já era o mais apertado das últimas cinco safras, pode se tornar um dos piores da história recente sem os dois países nas mesas de negociações com os portos da Rússia e Ucrânia fechados”, aponta relatório do Itaú BBA.
O preço do contrato futuro de 5 mil bushels (136,1 toneladas) aumentou 75% em dólares em um ano, até dia 23 de março, segundo a plataforma de investimentos Investing.com. Apenas nos últimos 30 dias, a alta foi de quase 20%. O trigo está nas cotações máximas em 13 anos e, além disso, enfrenta muita volatilidade, comenta César Castro, analista de agronegócio do Itaú BBA.
Segundo o banco, os preços do Brasil já estão numa crescente. Em 30 dias, aumentaram 12% no Paraná e 18% no Rio Grande do Sul, conforme o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP).
O impacto sobre os preços dos derivados de trigo vai variar conforme o produto, aponta a Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães e Bolos Industrializados (Abimapi).
Segundo a entidade, a elevação do preço do grão se reflete diretamente no custo da produção. Nas massas, em média, 70% é da farinha. Nos biscoitos, 30% e nos pães e bolos industrializados, 60%.
Uma coisa boa nesse cenário cheio de incertezas é a possibilidade de aumento na área plantada para a próxima safra no Brasil, diante de um cenário de melhora de rentabilidade projetada. Os analistas do Itaú BBA lembram que o Sul sofreu com a quebra da safra de verão, o que torna o trigo uma interessante fonte geradora de receitas.
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