A Revolução Russa de 1917 é frequentemente retratada como um marco de libertação popular. Mas por trás dos discursos utópicos e da promessa de igualdade, esconde-se uma das transições mais sangrentas e autoritárias da história moderna. A chegada do comunismo ao poder na Rússia não significou liberdade — significou repressão, censura, fome e milhões de mortos.
Um império em ruínas, um povo manipulado
O Império Russo vivia uma crise profunda. A monarquia czarista enfrentava revoltas internas, pobreza extrema e os efeitos devastadores da Primeira Guerra Mundial. Foi nesse cenário de caos que os bolcheviques, liderados por Vladimir Lênin, encontraram a oportunidade perfeita para tomar o controle — não por meio de uma eleição, mas por meio de um golpe armado.
Eles se apresentaram como defensores do povo, mas sua primeira medida foi dissolver a Assembleia Constituinte, recém-eleita. A partir daí, toda oposição foi silenciada. O que veio depois não foi democracia operária — foi ditadura de partido único.
Milhões de mortos em nome da “revolução”
A instalação do regime comunista desencadeou uma guerra civil brutal entre o Exército Vermelho (dos bolcheviques) e o Exército Branco (formado por opositores de diferentes vertentes). O resultado? Um rastro de destruição: entre 7 e 12 milhões de pessoas morreram entre 1918 e 1923, segundo estimativas históricas.
Essas mortes não foram apenas resultado dos combates. A maior parte das vítimas eram civis, mortos por fome, epidemias e repressão política. A repressão era conduzida pela Tcheka, polícia secreta criada por Lênin para eliminar qualquer forma de dissidência. Prisões arbitrárias, execuções sumárias e terror psicológico se tornaram parte do cotidiano.
A própria família imperial foi executada, incluindo crianças, num ato que simbolizou o fim da monarquia — mas também o início de um regime que não hesitava em usar a violência como método político.

O sonho comunista virou pesadelo
Durante os primeiros anos do regime, o chamado “comunismo de guerra” impôs confiscos forçados de alimentos, nacionalização da indústria e forte controle estatal. A propriedade privada foi praticamente eliminada, e a economia afundou. Milhões de camponeses passaram a entregar suas colheitas ao Estado sob ameaça de punições. A fome se espalhou, e só a crise de 1921 matou milhões.
Diante do colapso, Lênin recuou parcialmente e criou a NEP (Nova Política Econômica), permitindo brevemente alguma atividade privada. Mas a liberdade política nunca voltou.
O comunismo, na prática, mostrou-se uma máquina autoritária que sufocava liberdades individuais em nome de uma “causa maior”.
Nos anos seguintes, a estrutura montada pelos bolcheviques foi herdada e radicalizada por Josef Stalin, que transformou o aparato repressivo em algo ainda mais brutal. Foi sob ele que o sistema de campos de trabalho forçado, os GULAGs, atingiu escala massiva. Milhões foram enviados a trabalhos forçados ou executados em expurgos políticos.

Um legado de sofrimento e controle
A Revolução Russa não foi uma libertação popular. Foi a substituição de uma tirania por outra. Saiu a monarquia, entrou o partido comunista com poder absoluto. A repressão continuou, agora com discurso de “igualdade”, mas métodos totalitários.
O comunismo, ao chegar ao poder, demonstrou que sua teoria podia até falar em justiça — mas sua prática, desde os primeiros dias, foi marcada por intolerância, violência e controle social absoluto.
O sonho vermelho nasceu banhado em sangue. E as marcas desse pesadelo atravessaram todo o século XX.
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