Em reportagem publicada nesta quinta-feira, 6, o jornal O Globo revela que ONGs contratadas pelo programa Cozinha Solidária, lançado em novembro pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não forneceram as marmitas previstas em contrato, mas, mesmo assim, prestaram contas como se tivessem entregado as refeições.
O jornal visitou os endereços de três ONGs onde deveriam funcionar as cozinhas, mas não encontrou sinais de preparo de refeições.
ONG Madre Teresa de Calcutá
O programa Cozinha Solidária foi contratado para 12 Estados. Em São Paulo, a ONG Mover Helipa, comandada por José Renato Varjão, venceu um edital público. Varjão, que já trabalhou no gabinete do deputado federal Nilto Tatto (PT-SP), subcontratou uma rede de ONGs ligadas a atuais ou ex-integrantes de gabinetes petistas. A ONG Mover Helipa atua em uma área de bairros de baixa renda em São Paulo conhecida como “Tattolândia”, reduto da família Tatto.
Uma dessas ONGs subcontratadas é a Cozinha Solidária Madre Teresa de Calcutá, localizada no bairro Jardim Varginha, na zona sul da capital paulista. O contrato estabelece a entrega de 4.583 refeições por mês durante um ano.
Na tarde da última quinta-feira, 30, a reportagem de O Globo esteve no endereço designado para a distribuição das refeições, mas o local estava fechado. Moradores próximos relataram desconhecer a distribuição de marmitas no local.
Paula Souza Costa, responsável pela ONG e ex-assessora do ex-vereador de São Paulo Arselino Tatto (PT), declarou ter entregado 250 marmitas em janeiro, em parceria com o projeto ONG Sueli, que opera no endereço visitado. Essa quantidade representa apenas 5% do valor mensal estipulado em contrato. Apesar de não ter ocorrido entrega em dezembro de 2024, um recibo assinado por Paula Costa informa o recebimento de R$ 11 mil por serviços de produção e oferta de 4.583 marmitas naquele mês.
Segunda visita: ONG Unidos Pela Fé não entregou marmitas
A Cozinha Solidária Unidos Pela Fé, localizada em Parelheiros, também na zona sul de São Paulo, deveria entregar a mesma quantidade de refeições mensais. Claudinei Florêncio, ex-assessor de Arselino Tatto, reconheceu que, apesar de o contrato ter sido assinado em dezembro de 2024 para a entrega imediata, nenhuma refeição havia sido distribuída.
Ele afirmou que as operações começariam a todo vapor no dia 3 de fevereiro. Porém, apesar de não ter entregado nada, em prestação de contas apresentada ao governo, Florêncio alegou que entregou 4.583 marmitas entre 1º e 31 de dezembro do ano anterior. Quando questionado pelo Globo sobre a divergência de informações, ele não se manifestou.
ONG Instituto Rosa dos Ventos
A verba federal do programa de marmitas também beneficiou outras entidades próximas ao grupo político do PT, como a Cozinha Solidária Instituto Rosa dos Ventos, de Anderson Clayton Rosa, que ainda trabalha como assessor do deputado Nilto Tatto.
A ONG, que deveria entregar 4.583 marmitas, afirma que produziu 400 pratos em janeiro, conforme a prestação de contas. O parlamentar não se manifestou, enquanto o assessor afirmou que pode ter ocorrido “algum erro” na documentação enviada ao governo.


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