A Maternidade do Hospital Anita Gerosa, em Ananindeua, que atendia cerca de mil pacientes por mês e era a única referência para partos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) na região, fechou suas portas para o atendimento de gestantes e bebês no último domingo, dia 26 de janeiro. Segundo a direção do hospital, a medida foi tomada devido à falta de repasses de verba por parte da Prefeitura, gerando um caos na assistência à saúde pública local.
A decisão gerou protestos, tensões e acusações entre a gestão do hospital e a Prefeitura de Ananindeua. Uma faixa foi colocada em frente ao hospital, informando os pacientes sobre o encerramento dos serviços. De acordo com a direção da instituição, a dívida da prefeitura com o hospital em dezembro de 2023 era de R$ 3,5 milhões, referente a pagamentos pendentes dos meses de janeiro a junho e outubro a dezembro de 2023, além do período de janeiro a março de 2024. Esse atraso nos repasses comprometeu a sustentabilidade financeira do hospital, que enfrenta um déficit mensal de R$ 800 mil. Confira a nota do hospital completa:
“A Sociedade Beneficente São Camilo (SBSC), entidade mantenedora do Hospital Anita Gerosa, de Ananindeua (PA), há 20 anos, comunica oficialmente e com pesar o fechamento – a partir de hoje, 26/01/25 – de suas atividades hospitalares tanto para pacientes do Sistema Único de Saúde quanto para pacientes de convênios e particulares, o que inclui a Maternidade.
Permanecerão apenas os serviços de consultas e exames para pacientes conveniados e particulares. Esclarecemos a comunidade de Ananindeua que tal decisão foi tomada após várias tentativas de receber o valor devido pela Prefeitura à SBSC, que chega a R$ 3.000.000,00, além de custear o déficit mensal de R$ 800.000,00 que desde janeiro de 2023 vem sendo bancado unilateralmente pela SBSC.
Lembramos que a saúde financeira de qualquer instituição é fundamental para que se possa cuidar da saúde física e mental das pessoas. Quando isso não acontece a continuidade dos serviços torna-se inviável. Aproveitamos para esclarecer que o valor de R$ 600.000,00 repassado mensalmente ao Hospital Anita Gerosa pela Prefeitura Municipal foi destinado pelo Governo Federal, ou seja, ele não saiu dos cofres de Ananindeua, que apenas foi o órgão receptor e transmissor do valor, de acordo com o que estabelecem as normas do Ministério da Saúde.
Mesmo assim, esse montante não foi suficiente para que o Hospital funcionasse adequadamente, o que exigiu investimentos de R$ 19.400.000,00 no período de 2023 e 2024 por parte da SBSC, que contratualmente não deveria fazer nenhum aporte para manutenção dos atendimentos. Lamentamos profundamente o que está acontecendo.
Para além dos pacientes que ficam sem atendimento também há os colaboradores e médicos que perdem seus empregos. São mais de 150 pessoas de um total de 235 colaboradores. Para finalizar esclarecemos que o diretor do Hospital Anita Gerosa nunca esteve à frente das decisões de seu fechamento, tendo sido essa uma decisão da Sociedade Beneficente São Camilo.”
Em uma manifestação realizada na semana passada, trabalhadores da instituição expressaram sua indignação com a situação, temendo a demissão de parte do quadro de funcionários. Cartazes como “Para onde vão as mamães e seus bebês?”, “Doutor Daniel, pague o hospital Anita Gerosa” e “Salve os nossos empregos” foram levantados durante o protesto.

A Prefeitura de Ananindeua, por sua vez, defendeu-se das acusações, afirmando que os repasses para o hospital estão sendo feitos corretamente. De acordo com a administração municipal, mais de R$ 18 milhões foram destinados à unidade nos últimos dois anos. Ainda de acordo com a Prefeitura, a partir desta segunda-feira, 27 de janeiro, os serviços de parto serão realizados em outras unidades de saúde do município.
Porém, segundo o portal da Transparência, a Prefeitura tem atrasado pagamentos em até seis meses. A demora no repasse das verbas para o hospital agravou a crise da instituição de saúde, que, segundo a gestão, já vinha enfrentando uma defasagem dos valores repassados pelo SUS, que não são reajustados há 20 anos.

Enquanto as trocas de acusações continuam, a população de Ananindeua já sente as consequências da desativação de um serviço essencial. A medida deixou uma lacuna no atendimento de saúde na cidade, gerando grande incerteza sobre o futuro da assistência a mulheres e crianças na região.
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