O partido de direita português Chega expressou descontentamento em relação ao presidente Marcelo Rebelo de Sousa depois de suas declarações reconhecendo a responsabilidade de Portugal pela escravidão no Brasil e em outras colônias.
Na conta oficial do partido na rede social X (antigo Twitter), a mensagem dizia: “Vergonha! Se houvesse forma de destituir o Presidente da República Portuguesa neste momento, o Chega fá-lo-ia!”.
Nas eleições mais recentes, realizadas em março, o Chega aumentou sua representação no Parlamento português para 48 cadeiras, quadruplicando sua presença e tornando-se a terceira maior força política do país.
Durante uma conversa na noite de terça-feira com correspondentes estrangeiros, Rebelo de Sousa também mencionou ter sugerido ao seu governo a possibilidade de reparar os danos causados pela escravidão. Ele afirmou que Portugal “assume total responsabilidade pelos danos causados”, incluindo massacres de indígenas, escravidão de milhões de africanos e pilhagens de bens.
“Temos que pagar os custos (pela escravidão). Há ações que não foram punidas e os responsáveis não foram presos? Há bens que foram saqueados e não foram devolvidos? Vamos ver como podemos reparar isso”, afirmou.
Rebelo de Sousa ressaltou a necessidade de lidar com as consequências da escravidão, mencionando a possibilidade de ações reparadoras, mas sem detalhar como isso seria feito.
Essa foi a primeira vez que um presidente português reconheceu oficialmente a responsabilidade do país pela escravidão. No ano anterior, Rebelo de Sousa falou sobre a necessidade de desculpas, mas não chegou a fazê-las integralmente. Ele destacou que reconhecer o passado e assumir a responsabilidade eram mais significativos do que simplesmente pedir desculpas.
O período colonial português é um assunto delicado no país. Portugal foi o maior traficante de escravos da era colonial, envolvendo quase 6 milhões de africanos. No entanto, as autoridades e as instituições educacionais têm evitado discutir amplamente esse aspecto da história portuguesa. Em vez disso, a era colonial muitas vezes é retratada como motivo de orgulho, especialmente considerando a expansão para territórios como Angola, Moçambique, Brasil, Cabo Verde, Timor Leste e partes da Índia.
A conversa sobre reparações pela escravidão transatlântica tem ganhado destaque globalmente, incluindo propostas para a criação de tribunais especiais para abordar a questão.
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