No ano passado, o Brasil alcançou um marco sem precedentes no número de casos de estupro registrados no país. De acordo com os dados divulgados em 20 de julho, na 17ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, houve um total de 74.930 vítimas em 2022.
O levantamento abrange os casos notificados, ou seja, vítimas que formalizaram boletins de ocorrência relatando o crime às autoridades policiais. Em comparação com o estudo do ano anterior, houve um aumento de 8,2%, sendo que em 2021 foram registradas 68.885 ocorrências.
Segundo Juliana Martins, Coordenadora Institucional do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o estupro é um crime com subnotificação, o que torna o cenário ainda mais preocupante do que os dados divulgados sugerem. Um estudo recente do IPEA apontou que apenas 8,5% dos estupros no Brasil são reportados à polícia e 4,2% são registrados pelos sistemas de informação da saúde. Os autores estimam que o número real de casos anuais possa chegar a cerca de 822 mil.
Além disso, o recorte racial é relevante, com 56,8% das vítimas sendo pretas ou pardas, 42,3% brancas, 0,5% indígenas e 0,4% amarelas. Isso é atribuído a um racismo estrutural que está presente nas relações sociais, conforme destacado por Juliana.
Os dados são extremamente alarmantes. De cada 10 vítimas de estupro, 6 têm até 13 anos, e a maior alta ocorreu nos casos de estupro de vulneráveis, onde cerca de 64% das vezes o agressor é alguém próximo à criança.
Além disso, o estudo mostra um crescimento nos casos de violência intrafamiliar, em que os autores da violência, especialmente contra vulneráveis, são pais, avôs, tios e pessoas com vínculos familiares ou de convivência com as vítimas.
O estudo também examinou as tentativas de estupro, revelando um aumento de 3% de 2021 para 2022, com o número passando de 4.482 para 4.639. As denúncias de assédio sexual também tiveram um crescimento significativo de 48,7%.
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