Nos últimos dias, a proposta de de divulgar a famosa Carta aos Brasileiros de 2003, só que dessa vez voltada ao público evangélico, ganhou força na campanha para a presidência de Lula.
Diferente do que Lula disse na última quinta-feira (6), quando afirmou que o PT “não precisa ficar fazendo carta” a diferentes setores da sociedade, o documento já tem até rascunho. Na carta, Lula irá apresentar seus compromissos com o público evangélico, na intenção de diminuir a grande rejeição que o ex-presidente tem com o segmento.
A data para ser divulgada ainda está sendo discutida entre a coordenação de campanha do candidato.
Alguns aliados de Lula consideram que divulgar a carta logo nos primeiros dias do segundo turno pode ser prematuro poderia perder “impacto” até o final do segundo turno, em 30 de outubro. Seguindo essa tese, os aliados afirmam que o ideal seria liberar o documento o mais próximo possível do dia da votação, para que a mensagem não se perca e repercuta mais num momento decisivo na formação da convicção de voto.
Já a outra ala apoiadora do ex-presidente, da qual participam integrantes do núcleo evangélico, defende que a divulgação de um documento assumindo compromissos com o segmento deveria ocorrer o quanto antes. Para esse grupo, qualquer momento já será tarde, porque isso deveria ter sido feito ainda na primeira rodada.
Segundo integrantes da campanha do petista, a carta ao público evangélico irá incluir a promessa de que, caso eleito, não vai defender a “pauta de costumes”. Ou seja, o partido não irá propor nenhuma mudança na legislação sobre drogas e aborto, porque vai priorizar a agenda econômica, com aumento de renda e geração de emprego para os brasileiros.
A coordenação de campanha lulista também pretende destacar na carta que foi o ex-presidente sancionou o Dia Nacional do Evangélico (comemorado em 30 de novembro) e criou o Dia Nacional da Marcha Para Jesus. O documento também deve destacar que o número de igrejas evangélicas se multiplicou entre 2003 e 2016, nos governos Lula e Dilma.
Outra pauta que interlocutores do segmento evangélico e membros do PT querem ver incluída no documento é a promessa de não intervenção do Estado na criação de crianças pelos seus responsáveis. O tema é levantado constantemente por pastores bolsonaristas como uma ameaça em um eventual governo Lula
Durante o primeiro turno, a campanha do candidato do PT ao governo de São Paulo, Fernando Haddad (PT), assinou uma carta similar à articulada agora pela campanha de Lula, em que o candidato garantia que não incluiria garantia de não interferir na liberdade de criação de crianças.
Apesar dos esforços para aproximar Lula dos evangélicos, os aliados do ex-presidente não aprovaram a divulgação de um vídeo de campanha gravado durante uma agenda de Lula e seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), com pastores em São Gonçalo (RJ), no início de setembro.
“Essa estratégia do PT de não acenar ao evangélico e se concentrar na pauta econômica é um equívoco. Não vão sensibilizar esse eleitor. A agenda do bolsonarismo e as igrejas evangélicas que o apoiam são quase que complementares”, critica uma articuladora do PT para o segmento evangélico. “Está faltando os estudiosos do PT entenderem que o Brasil está transicionando para uma nação evangélica”.
Atualmente, a campanha de Jair Bolsonaro trabalha com a estimativa de que os evangélicos já compõem quase 40% da população brasileira, em torno de 85 milhões de pessoas. Lideranças aliadas ao PT compartilham da mesma projeção. No último censo do IBGE, divulgado em 2010, eram 42 milhões, ou 22% dos brasileiros.
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