O Brasil entrou no topo mundial em uma categoria de robótica após vencer o RoboCup 2022, realizado em Bangkok, na Tailândia, neste mês. A equipe de engenharia do Centro Universitário FEI, de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, eliminou times de 45 países com a apresentação de Hera, um robô com linguagem de Inteligência Artificial que realiza tarefas domésticas como servir pessoas, tirar a mesa, colocar o lixo para fora, entre outras funções.
Na competição, que reuniu mais de 3 mil participantes, os robôs da categoria At_Home (onde o Brasil ficou em 1º lugar) são programados para realizarem tarefas relacionadas a serviços, com foco em atividades domésticas.
Na demonstração aos jurados técnicos, os robôs devem pegar e manipular diferentes objetos, além de mapear ambientes por meio de sensores, por exemplo.
Os comandos são executados por meio de um sistema de navegação autônoma, conforme explica o professor Plínio Aquino Junior, chefe do Departamento de Ciência da Computação e um dos coordenadores do projeto na FEI.
“Ele [o robô] usa seus sensores, câmera, motores e garras para navegar nos ambientes, manipular objetos e interagir com as pessoas. Durante a competição, as situações não são totalmente pré-configuradas. Embora a casa seja conhecida pelo robô, os objetos, móveis e até o cesto de lixo podem estar em locais diferentes do original. E, mesmo assim, o robô deve localizá-los corretamente para executar as tarefas definidas. Sempre de forma autônoma, sem qualquer intervenção humana”, explica o professor.
O coordenador do projeto ressalta que o robô pode realizar tarefas básicas, como reconhecer e pegar objetos em uma estante; recolher lixo da casa colocando devidamente na lixeira; reconhecer pessoas no ambiente; seguir pessoas pela casa ou mesmo acompanhá-las até um determinado local.
“Pode reconhecer um comando ou um pedido, e realizá-lo; interagir com pessoas incluindo-as socialmente em encontros; monitorar regras sociais como ‘não jogar lixo no chão’, ‘cuidar da saúde, hidratando-se’, ou mesmo perceber uma pessoa no chão pedindo ajuda, falar com o médico à distância e socorrê-la com remédio solicitado pelo médico”, afirma.
O professor acrescenta que as variadas tarefas que o robô pode fazer acontecem com uso de sensores laser, câmeras, microfones direcionais, garra anatômica e diversos outros sistemas tecnológicos avançados.
Apesar de os robôs realizarem atividades autônomas em uma casa, essas atividades poderiam ser executadas em hospitais, universidades, empresas e outros contextos.
Diferenciais de Hera
Dentre os principais diferencias do robô Hera, que foi destaque na competição internacional em Bangkok, está a de que o aparelho tem uma base móvel omnidirecional que permite movimentos livres em todas as direções.
Além de usar sensores laser para mapeamento do ambiente, evitando colisões e tornando a navegação segura para pessoas, pets e objetos nos ambientes domésticos.
“O robô possui uma garra anatômica para pegar diversos objetos diferentes e com câmera acoplada para identificar corretamente e determinar o ponto exato de manipulação dos objetos. Microfones direcionais permitem que a Hera identifique quem e onde estão chamando por ela”, disse o professor Aquino Jr.
“Trata-se de um robô autônomo e inteligente, ou seja, em momento algum na execução das suas atividades há controle remoto acionado por pessoas. A partir do momento que a robô Hera é ligado, diálogos são trocados com as pessoas para identificar quais são suas necessidades, e o robô toma decisões para ajudar”, inclui.
Processo de criação
O robô Hera vem sendo desenvolvido pelos alunos da FEI desde 2015, quando participou pela primeira vez da Competição Brasileira de Robótica – RoboCup Brasil.
“De lá para cá, a Hera foi sendo aprimorado, com sensores, novos sistemas e inteligência artificial, que permitiram sua participação nas RoboCup de 2018, 2019, 2021 [virtual] e agora em 2022. Além de ter ganhado 5 campeonatos nacionais nos últimos anos”, informou o professor.
O processo de desenvolvimento do Hera é constante, ele diz, e as regras do concurso evoluem a cada ano.
“Essa evolução nas regras aumentam a complexidade dos desafios exigindo que todas as equipes se mantenham em constante desenvolvimento, atualizando suas plataformas robóticas em todos os aspectos: formato físico, dispositivos acoplados, softwares, etc.”, disse.
Hera no mercado
O robô, que foi desenvolvido em uma ação conjunta de alunos de graduação, mestrado e doutorado de diversas as áreas da FEI, incluindo engenharia elétrica, mecânica, de produção, ciência da computação e engenharia de robôs, não está restrito apenas ao ambiente doméstico, e pode ser facilmente adaptado para as áreas comerciais e industriais.
“Embora a FEI não produza os robôs para venda, acreditamos que os alunos e professores envolvidos possuem expertise suficiente para atender o mercado, seja com projetos de desenvolvimento em parceria com a universidade, ou novas startup de robótica que produzirão novos robôs e fazê-los chegar até o mercado e o consumidor final”, disse Plínio.
“O fato é que o Brasil está tomando posições de destaque na área de robótica no mundo e os novos alunos formados pelo curso de Engenharia de Robôs, bem como novas startups na área pelo país, podem e devem tornar o Brasil protagonista desta revolução tecnológica, e não apenas um mero consumidor de tecnologia estrangeira”, acrescentou.
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