Cesare Battisti, que cumpre prisão perpétua na Itália pela participação em assassinatos ocorridos em atos terroristas, criticou o pré-candidato e ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em cartas enviadas ao repórter Lucas Ferraz, da Folha de São Paulo.
Battisti, que recebeu asilo político enquanto o PT estava no poder, escreveu que “há muita coisa para esclarecer, outras a desmentir. Inclusive algumas declarações falsas do Lula”.
A entrevista com Battisti foi construída por meio de troca de cartas com o terrorista, encarcerado num presídio da região da Calábria. O italiano de 67 anos disse entender que a ambição desmedida de Lula permitiu que Jair Bolsonaro vencesse as eleições de 2018. Para o terrorista, o petista é “capaz de tudo” para voltar ao Palácio do Planalto.
Em sua carta, ele disse: “Todos sabemos que Lula é capaz de tudo para colocar de novo a faixa de presidente. O animal político que nunca se contradiz. Aconteceu também comigo de admirar seu cinismo político (no sentido vulgar do termo) e o extraordinário jogo de cintura”.
“Se Lula e o PT não tivessem comido tudo, se não tivessem feito acordo com todo o lixo do ‘centrão’, o povo brasileiro não teria desistido para correr atrás de Bolsonaro.”, continuou.
Battisti está preso na Corigliano Rossano, penitenciária localizada na região da Calábria, na Itália, condenado por quatro homicídios entre as décadas de 1960 e 1980. Membro do grupo Proletários Armados pelo Comunismo, Battisti foi apontado como autor dos disparos que mataram o agente penitenciário Antonio Santoro e o motorista de uma divisão da polícia de combate ao terrorismo Andrea Campagna. O ex-terrorista ainda foi condenado por dar cobertura durante o assassinato do açougueiro Lino Sabbadin e por coidealizar a morte do joalheiro Pierluigi Torregiani.
Mesmo condenado pelo judiciário italiano, Battisti conseguiu escapar por 14 anos da extradição no Brasil, muito pelo esforço de Lula e do PT para mantê-lo no país.
O ministro do STF Luís Roberto Barroso foi seu advogado no processo de extradição na corte encerrado em 2010, antes ainda de virar ele próprio um integrante do Supremo.
Bolsonaro, por sua vez, prometeu na campanha eleitoral de 2018 a sua extradição, o que levou o italiano a fugir para Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, onde foi detido e mandado de volta para casa.
Em 2018, quando Jair Bolsonaro (PL) foi eleito presidente do Brasil, Battisti decidiu fugir do país e se refugiar em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, onde o ex-terrorista foi preso e extraditado para a Itália. Em 2019, Battisti confessou os crimes.
A carta de Battisti demonstra desgastes na relação com o petista, em especial, após Lula ter pedido desculpas por não ter extraditado o ex-terrorista. ‘Desde o momento que ele confessou, é óbvio que devo admitir que errei”, afirmou Lula em entrevista à RAI, emissora de televisão italiana, em 2020.
Hoje, em sua perspectiva, Battisti diz ver hipocrisia na proteção recebida durante os anos Lula e Dilma Rousseff.
Battisti afirmou que Lula abandonou outros aliados ligados à esquerda, com objetivo de acenar à direita. “Aconselharam Lula a fazer isso se quisesse recuperar parte dos setores que votaram em Bolsonaro, ele não hesitou. Fui recebido não porque fosse declarado inocente, mas exatamente para deixar ser exibido como troféu de guerrilheiro às forças de esquerda do Brasil. Para eles, não interessava um inocente perseguido, mas o combatente da liberdade”, prosseguiu o ex-terrorista.
Em nota, a assessoria do ex-presidente Lula reafirmou que a partir da confissão dos crimes, o entendimento sobre seu refúgio passa a ser outro.
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