Erário banca viagem de Ed50 e entourage ao México para contar potocas sobre gestão e ‘cidade inovadora’  

Por Olavo Dutra | Colaboradores

Ed50 viaja para o México à custa do Erário para dizer a lobistas e empresários que não vivemos na lama e no alagado, mas sim em uma cidade inovadora. 

Dia dos Mortos é uma celebração de origem indígena comemorada no dia 2 de novembro, no México, em honra aos falecidos. Diferente da comemoração do Dia de Finados no Brasil, a tradição mexicana reza que as almas são autorizadas a visitar os parentes vivos. A celebração ocorre durante a festividade que vai do dia 31 de outubro a 2 de novembro, se repetindo há cerca de 3 mil anos para os povos mesoamericanos pré-hispânicos – astecas, maias, purépechas, náuatles e totonacas.

O exótico país, onde os mortos encontram os vivos no dia de finados, fica bem longe daqui: a distância em linha reta – rota aérea – entre a nossa Belém do Pará e o centro do México é de 6.470 km, 4.021 milhas ou 6.470 milhas marítimas.

Toda essa distância não desanimou o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, e sua comitiva, em dívida com nossa gente, a percorrerem os 6.470 km, com custeio totalmente assentado no Erário da cidade, para tomarem lugar em um evento denominado Smart City Expo Latam Congress, na cidade de Mérida, e que o alcaide vendeu aqui como sendo um dos maiores eventos de cidades inovadoras do planeta.

Apenas feira de negócios

No entanto, basta uma simples busca no Google para se descobrir que o evento para o qual Ed50 e sua entourage viajaram é, na verdade, uma feira de negócios, onde empresas e empresários apresentam a prefeitos de diferentes partes do mundo, através de expositores nacionais e internacionais, oportunidades de contratos e parcerias que têm como pano de fundo a chamada “inovação”, seja na área arquitetônica, tecnológica ou de engenharia. Para não parecer que viajaram e gastaram o dinheiro público apenas para ouvir e contatar lobistas, alguns prefeitos que visitam a exposição internacional têm direito à palavra – e o prefeito lilás foi um deles. 

Quando a cara nem treme

Edmilson participou do painel “Mobilidade centrada nas pessoas: proximidade e transporte público” ressaltando “a importância do planejamento estratégico para ajudar no crescimento das cidades”. “O planejamento urbano, com protagonismo da população, é fundamental”, disse Ed50 em português trivial. Falando para ouvintes que não sabem o estado de abandono de todos os territórios de Belém, Edmilson falou sobre “a criação, inspirado na experiência de Barcelona (Espanha), de uma plataforma própria que é o Fórum Permanente de Participação Cidadã, o Tá Selado”.

Sem tremer um músculo da cara, o cidadão vendeu à plateia desavisada que, em Belém do Pará, o poder público “escuta as demandas da população” e que firma, através de uma plataforma digital, compromisso que serão cumpridos. “É o povo da cidade protagonizando o processo de planejamento territorial, decidindo as prioridades do que o governo deve realizar”. Fala sério…

A plateia aplaudiu, Edmilson sorriu e caminhou até seus auxiliares sorridentes, que o aguardavam para o almoço, que, é claro, também foi pra conta do povo de Belém. O embuste de que Belém viveu ou vive em sua a administração atual um processo em que os moradores decidem prioridades para a cidade não resiste a nenhuma análise.

“Degradada e abandonada”

Não é justo, por outro lado, afirmar que Edmilson não sabe o que é participação popular, já que seguiu à risca, em seu primeiro mandato, o modelo de Porto Alegre e obteve alguns resultados expressivos, arregimentando a partir dessa ação de apelo popular grande parte do eleitorado cativo que o acompanhou em várias eleições e que principia a debandada.

Cidades verdadeiramente inteligentes trabalham de maneira a reunir tecnologia, governo e sociedade para permitir economias locais inteligentes, mobilidade, meio ambiente, governança e  qualidade de vida para as pessoas que vivem nessas cidades. Nada disso se vê em Belém, que segue degradada, suja, abandonada, alagada e desesperançada de que Ed50 desperte desse passeio pelo país dos mortos e perceba que a distância entre o que ele diz estar fazendo e o que o povo da nossa cidade vive é até maior do que os 7 mil quilômetros que separam Belém do Pará do México.

Os mortos e os muito vivos

Ao contrário dos devaneios do prefeito de Belém que vende a estrangeiros uma cidade inexistente, o Dia dos Mortos mexicano é um encontro anual com a realidade. As pessoas celebram seus antepassados e isso desempenha uma função social das mais relevantes, ao recordar o lugar do indivíduo no seio do grupo e contribuir na afirmação da identidade local, coisa que Belém está, definitivamente, perdendo. E não encontrará de novo, seja no México ou em qualquer lugar fora daqui. Edmilson não vê que o tempo está passando e isso só é irrelevante para os mortos; ou, quem sabe, para os muito vivos.

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