O prefeito de Ananindeua, Daniel Santos, se vê hoje no epicentro de duas frentes que ameaçam seu projeto político: de um lado, gravações de sua articulação eleitoral antecipada; de outro, uma investigação que o coloca sob suspeita de corrupção, lavagem de dinheiro e compra irregular de uma fazenda com recursos de empresas contratadas pelo município.
Eleição antecipada ou mobilização partidária?
Um vídeo divulgado nas redes sociais mostra Santos discursando em uma plenária do Partido Socialista Brasileiro para cerca de 100 pessoas em Belém, onde afirma que “o momento político não é mais de direita ou esquerda, mas de um time que é anti-Barbalho”, numa referência explícita ao grupo político do governador Helder Barbalho (MDB).
No mesmo debate, ele chama a eleição de “uma guerra” e orienta simpatizantes sobre “como devem agir” contra “duas máquinas poderosas”: o governo estadual e a Prefeitura de Belém.
Essa linguagem e o evento político-partidário fora do período oficial de campanha levantam questionamentos sobre eventual infração à legislação eleitoral, que proíbe “pedido explícito de voto ou ato de propaganda” fora do prazo permitido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A postura de Santos — tentando convergir apoiadores da direita e da esquerda, sem abraçar claramente nenhum dos lados — também tem gerado descrédito entre aliados, que o classificam como “em cima do muro” e também por sua esposa, deputada federal Alessandra Haber (MDB), não ter se posicionado de forma contundente sobre o PL da anistia, tão aclamado por eleitores da direita.
AS INVESTIGAÇÕES
A investigação que pode custar o mandato
Paralelamente ao cenário eleitoral, o prefeito enfrenta uma investigação pesada: o Operação Hades, deflagrada pelo Ministério Público do Estado do Pará (MPPA), focaliza indícios de fraude em licitações, lavagem de dinheiro e coação de testemunhas.
As apurações da PF apontam que o prefeito comprou um avião no valor de R$ 10 milhões e o pagamento foi feito por uma empresa terceira que tem contrato com a prefeitura.
“O documento encaminhado pela empresa Maia Aviation Importação e Exportação é indicativo de engenhoso esquema criminoso destinado à aquisição de aeronave particular para uso particular do gestor público Daniel Barbosa Santos, o qual é titular da pessoa jurídica Agropecuária J D eireli”, diz o documento.

A investigação também contou com o depoimento da vendedora da fazenda, estimada em cerca de R$ 16 milhões, que deu declarações sobre como foram os pagamentos e detalhes da região.
Investigadores apontam que empresas prestadoras de serviços à Prefeitura de Ananindeua pagaram parcelas do imóvel, o que caracteriza, na visão do MPPA, “quando se descobre aquisição de patrimônio com empresas que tenham contratos ativos com a municipalidade, isso demonstra improbidade, corrupção e lavagem de dinheiro”.
Além da fazenda, foram apreendidos bens de luxo, tais como 16 relógios avaliados em mais de R$ 3 milhões. A decisão de afastamento cautelar de Daniel Santos do cargo foi baseada no risco de interferência na investigação e no uso indevido do poder econômico.
O desafio para a trajetória política
Santos se elegeu pela primeira vez prefeito de Ananindeua em 2020 com cerca de 67,7% dos votos — tornando-se o gestor mais jovem do município. Em 2024, já filiando-se ao PSB, obteve desempenho ainda mais expressivo (83,48% dos votos válidos) segundo registros eleitorais.
Agora, com o risco de ficar inelegível ou preso — caso eventualmente seja condenado — sua pretensão de disputar cargos maiores (há rumores de que poderia mirar o governo do Pará em 2026) está ameaçada.
Intersecção entre discurso e expediente
O discurso de Santos — de que “não é mais direita ou esquerda” e que se trata de “um time contra Barbalho” — casa estranhamente com o modus operandi investigado: uma máquina política municipal que, segundo o MPPA, repassava recursos públicos via contratos para sustentar patrimônio privado.







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