O ex-gerente do banco BMG Anderson Ladeira Viana transferiu R$ 1 milhão via Pix para a Brasília Consultoria Empresarial S/A, de propriedade do lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, o Careca do INSS, apontado como pivô de um esquema bilionário de fraudes em aposentadorias e pensões. A transação consta em um Relatório de Inteligência Financeira (RIF) elaborado pelo Coaf, que classificou a movimentação como suspeita.
Após deixar o BMG em 2022, Viana abriu a Associação de Assistência Social a Pensionistas e Aposentados (AASPA) e utilizou outra de suas empresas, a Dataqualify, para validar assinaturas e biometrias de beneficiários. Em 2024, a AASPA conseguiu firmar um acordo com o INSS para autorizar o desconto de mensalidades associativas diretamente na folha de pagamento — contrato que só foi concretizado depois do pagamento milionário ao lobista.
O Coaf destacou no documento que a movimentação financeira da empresa de Antunes era incompatível com o faturamento declarado:
“Chama atenção a movimentação expressiva em conta, gerando uma incompatibilidade entre seu faturamento e valores movimentados, levantando suspeita que a empresa realize atividades para demais segmentos não declarados.”
Segundo o órgão, a Brasília Consultoria, aberta em 2022 e registrada sob o nome fantasia de BSB Business Consulting S/A, declarou faturamento anual de R$ 1,6 milhão. No entanto, somente os repasses de Viana já representaram mais da metade desse valor. Entre junho de 2023 e abril de 2024, R$ 46,5 milhões circularam pela conta da empresa do Careca do INSS, o que levou o Coaf a reforçar a suspeita de irregularidades.
Antunes, que chegou a ser preso pela Polícia Federal, prestou depoimento à CPMI do INSS em setembro e negou envolvimento no esquema:
“Sempre acreditei que a verdade, sustentada em fatos e documentos, seria o suficiente para afastar a mentira, a inveja e a calúnia que vêm sendo disseminadas desde o início dessa investigação”, disse.
Além desse pagamento, o lobista também esteve envolvido em outra transação de alto valor: a World Cannabis (WorldCann), de sua propriedade, repassou R$ 500 mil ao escritório de advocacia do suplente da senadora Damares Alves (Republicanos-DF) e presidente do União Brasil no DF, Manoel Arruda.
Nesse caso, segundo Arruda, Antunes o contratou em novembro de 2024 para intermediar uma parceria da WorldCann com a Indústria Química do Estado de Goiás (Iquego), dentro do Programa de Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDP) do Ministério da Saúde. O contrato, entretanto, foi rescindido em maio, após a deflagração da Operação Sem Desconto, da PF. Um comprovante bancário mostra que o escritório devolveu os R$ 500 mil ao lobista.
O banco BMG, em nota, afirmou não ter “qualquer relação com eventuais negócios de ex-funcionários”. Viana foi procurado, mas não respondeu às mensagens. Já a AASPA e a defesa do Careca do INSS também não se manifestaram.
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