Mais de 100 economistas, entre eles o francês Thomas Piketty, assinaram, em 2023, uma carta que descrevia a eleição de Javier Milei como prenúncio de “devastação econômica e caos social”. Quase dois anos depois, os indicadores contam outra história. A inflação mensal, que beirava 26 %, caiu para 1,5 %; o risco-país recuou de 2 200 para 1 350 pontos; e o PIB avançou 7,6 % no segundo trimestre de 2025, após a maior safra de soja e um salto no investimento em lítio e energia.
O erro de previsão revela três equívocos recorrentes. São eles:
- Modelos keynesianos extrapolaram o colapso sem considerar o ganho de eficiência decorrente do corte de ministérios, fim de subsídios cruzados e unificação cambial, medidas que liberaram capital antes represado;
- Subestimaram o impacto de credibilidade. Ao impor superávit primário e congelar a emissão do Banco Central, Milei ancorou expectativas e reduziu inércia inflacionária;
- Assumiram que choque fiscal mata demanda, ignorando que, em economias distorcidas, remover entraves estimula oferta e atrai poupança.
O “caso Milei” já repercute fora da Argentina. El Salvador de Nayib Bukele, a agenda pró-mercado que volta a ganhar voz nos EUA com Donald Trump, e o ceticismo de Polônia e Estônia em relação a metas climáticas caras indicam que o pêndulo político pode estar migrando para soluções de corte de estado, flat tax e disciplina monetária, princípios que a Escola Austríaca defende há um século.
Milei ainda enfrenta riscos: pobreza em 38 %, peso paralelo volátil e resistência sindical às privatizações. Mesmo assim, a virada nos números coloca em xeque a arrogância intelectual que tratava teses libertárias como convite ao desastre. Se a curva continuar a desmentir o consenso, outros países poderão seguir a mesma trilha — inclusive o Brasil, onde juros altos e fardo tributário alimentam o apelo por enxugamento do estado.
*Matéria: nøt journal – smart news for smart people .
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