O aiatolá Naser Makarem Shirazi, uma das figuras mais influentes do clero xiita iraniano, divulgou no domingo (30) uma fatwa — decreto religioso islâmico — que autoriza a execução do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. Segundo Shirazi, os ataques recentes ao Irã tornariam ambos culpados de crimes que, na visão da lei religiosa, merecem a pena de morte.
A decisão afirma que qualquer ação que ameace a República Islâmica do Irã, seu líder supremo Ali Khamenei ou seus seguidores é uma declaração de guerra contra Alá. A fatwa declara que indivíduos que cometam tal ofensa devem ser levados ao arrependimento e punidos severamente.
O decreto ainda promete recompensas divinas a jihadistas que forem feridos ou mortos tentando eliminar Trump e Netanyahu. Para os dois líderes, ou qualquer muçulmano que os apoie, o texto prevê punições como execução, crucificação, amputação de membros ou exílio — penas previstas pelo Código Penal Islâmico iraniano para os chamados “moharebs”, termo usado para designar inimigos de Deus.
Shirazi classificou tais inimigos como “senhores da guerra”, e encerrou o pronunciamento com uma oração pela proteção da comunidade islâmica global, a ummah, e pela chegada do Mahdi, figura messiânica do islamismo xiita.
Esse decreto surge após o fim do que passou a ser chamado de “Guerra dos 12 Dias”, conflito no qual forças americanas e israelenses bombardearam instalações militares e nucleares iranianas, matando cientistas e comandantes. Em resposta, o Irã lançou mísseis contra cidades de Israel.
Durante esse confronto, Trump afirmou que qualquer enriquecimento de urânio com fins militares por parte do Irã desencadearia nova ação dos EUA. Ele também declarou, na rede Truth Social, que poupou a vida do aiatolá Khamenei durante a guerra, mesmo tendo conhecimento de seu paradeiro.
A repercussão do decreto foi imediata. O podcaster britânico-iraniano Niyak Ghorbani classificou a fatwa como um ato oficial de incitação ao terrorismo internacional, com apoio do Estado iraniano. “O Ocidente precisa entender que a República Islâmica está mirando não só seu povo, mas preparando-se para violência em escala global”, escreveu no X (antigo Twitter).
O Irã tem histórico de emitir decretos religiosos com apelos violentos. Um exemplo emblemático é a fatwa de 1989 contra o escritor Salman Rushdie, após a publicação do romance Versos Satânicos, considerado ofensivo por muitos muçulmanos. Essa condenação levou Rushdie a viver escondido por anos, além de motivar ataques contra tradutores e editores de sua obra. Em 2022, o escritor foi esfaqueado por Hadi Matar, que declarou inspiração na antiga fatwa. Rushdie sobreviveu, mas perdeu a visão do olho direito e sofreu ferimentos graves.
Paralelamente à divulgação do novo decreto, o governo iraniano intensificou repressões internas. Informações apontam que mais de 700 indivíduos foram detidos sob suspeita de colaboração com Israel, e diversas execuções teriam ocorrido em apenas dois dias — número superior ao total registrado durante os 12 dias de guerra.
Diante da ameaça de vigilância, grupos de oposição no exterior alertam os iranianos a não se manifestarem publicamente contra o regime nas redes sociais. A conta do Mossad em persa advertiu seus seguidores a não interagir com publicações para evitar represálias do governo iraniano.
Reza Pahlavi, filho do último xá do Irã, também se pronunciou. Ele encorajou integrantes das forças armadas e funcionários públicos não envolvidos em atos de violência a se unirem a canais seguros de comunicação, ressaltando a importância de evitar qualquer atividade digital que possa comprometer suas identidades.
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