A jovem Marília Gabriela dos Santos Martovicz, estudante universitária, de 29 anos, mãe de um menino de 10 anos, utilizou suas redes sociais para denunciar seu tio, Francisco Martinho da Silva, de 68 anos, que é pastor em uma igreja evangélica no município de Conceição do Araguaia, no sul do Pará. Ela pede justiça para que o suspeito pague pelo crime de suposto estupro cometido contra o filho dela em julho de 2021 e contra ela durante a infância.
Segundo Marília, ela também sofreu abusos por parte do mesmo homem quando ainda era criança, dos 8 aos 13 anos de idade. “Eu sempre instruí meu filho sobre o que ele não pode deixar que façam com ele, sempre esclareci para ele sobre o que significam essas coisas, porque eu não tive essa instrução na minha infância, mas com ele, eu agi diferente, passei a vida toda instruindo ele para saber o que é estupro, e por isso ele soube me detalhar exatamente o que ele sofreu nas mãos daquele monstro”, relata Marília.
De acordo com os relatos da jovem, nas férias de julho, ela e o filho, foram passar uns dias na casa da tia, irmã da mãe dela, no sul do estado. E, no dia 30 de julho, o filho dela foi vítima do abuso por parte do pseudo pastor.
“Eu estava dormindo quando meu filho chegou tremendo me acordando pra me contar o que havia acontecido. As mãozinhas dele suavam, quando ele relatou o que esse monstro fez com ele”.
Marília conta que nunca deixou que a criança ficasse sozinha com o tio, mas, nesse dia, ela havia dormido sem querer pois estava estudando no quarto. O menino teve permissão dela para ficar brincando até mais tarde, já que era mês de férias, mas que, na hora que ele fosse dormir, ele dormiria com ela.
“Nesse dia, quando ele me acordou, me disse que achava que o tio Martinho estaria querendo estuprá-lo. Daí eu perguntei o que havia acontecido”. O menino, segundo ela, explicou com riquezas de detalhes, o que teria ocorrido. “O tio perguntou onde ele iria dormir e ele falou que dormiria comigo, no quarto da minha prima, filha do Martinho. Então, o Martinho perguntou se ele poderia dormir junto com ele e a criança, inocentemente, disse que sim. Tudo bem ele dormir com o tio”.
Nesse momento, de acordo com relatos da criança, “o tio o levou para o quarto e ficou fazendo carinho nele. Deitou ele na cama, ficou passando a mão no corpo dele, tentou tirar o short, se esfregou e em seguida lambeu os mamilos dele, o virou de costa e ficou abraçando apertado”. Segundo a mãe, a criança contou que ao ser virado de costas pelo tio, ele teria “ficado fazendo uma pressão nas suas costas”.
O menino disse para a mãe que saiu correndo do quarto dizendo que iria tomar refrigerante na cozinha, mas o tio foi atrás dele. “A cozinha da casa da minha tia é americana e divide com outra sala onde tem sofá e TV. O meu filho disse que o tio Martinho puxou ele pro colo no sofá ficou apertando ele. Foi quando o meu filho saiu correndo e veio me contar tudo”, explicou.
Marília revelou ainda que durante os cinco anos em que teria sofrido violência sexual por parte do tio, na infância, ficou calada, mas que não deixaria isso acontecer com o filho. “Quando eu ouvi os relatos do meu filho, eu prometi para ele que o levaria na delegacia para contar tudo e denunciar o caso. E foi o que eu fiz. Olhei paro meu filho e disse que eu estava muito orgulhosa dele, que ele tinha sido muito corajoso em me contar tudo o que aconteceu com”.
A ocorrência policial
Como tudo aconteceu às 23h do dia 30 de julho, na manhã do dia 31, Marília foi com a criança à delegacia do município e denunciou o caso, mas a polícia não registrou como flagrante.
“Meu filho falou tudo o que havia me contado para o escrivão, pois o delegado não estava na delegacia. Meu filho foi ouvido pelo Conselho Tutelar também e o caso na delegacia não foi registrado como flagrante, o que é um absurdo, pois não tinha nem 24 horas que eu denunciei e eles, além de não registrarem como flagrante, ainda registraram como ‘fato atípico’ e não como estupro de vulnerável”.
A criança também passou por exame sexológico no Centro de Perícia Científica Renato Chaves (CPCRC) de Marabá, também no sudeste do estado, no mesmo dia. Desde então, Marília vem travando uma batalha para fazer com que as autoridades corrijam o que ela chama de “erro” e prendam o acusado, que inclusive, segundo ela, tem influência política na cidade e chegou a concorrer nas últimas eleições.
“Eu quero que ele pague, ele é um pedófilo e precisa ser parado. Por isso eu peço apoio, ajuda da ministra Damares Alves. No interior é muito difícil conseguir ter apoio e fazer com que essas pessoas que se escondem na fachada da religião paguem pelos seus crimes, principalmente quando têm influência política no meio”, clama Marília.
Outras vítimas
De acordo com Marília, após a denuncia contra o tio vir à tona, outras vítimas começaram a falar sobre os abusos que também teriam sofrido por parte do “pastor”.
“Muitas mulheres apareceram para me contar que sofreram abusos por parte dele. E sempre as características de abuso que ele prática são as mesmas. E todas tinham entre 12, 13 anos a época em que ele cometia”.
Marília conta que faz terapia e foi onde descobriu que, na infância, o que passou se configura como estupro. “Naquela época, eu não sabia o que significava. Só sabia que me incomodava e que me dava medo de contar e ser punida”.
A vendedora diz que tem medo que mais crianças passem pelo que ela e o filho passaram e, por isso, apela para que a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, do governo Jair Bolsonaro (sem partido), ajude neste caso.
Segundo Marília, pelo menos 4 mulheres a procuraram para relatar abusos que teriam sofrido pelo pastor e como ele as aliciava.
Comentários