Entre 1958 e 1962, a China viveu um dos episódios mais devastadores da história moderna: o Grande Salto Adiante, uma campanha econômica e social lançada por Mao Tsé-Tung, líder do regime comunista chinês, que prometia transformar o país rural em uma potência industrial em poucos anos.
O plano, no entanto, resultou em fome em massa, repressão brutal e a morte de 30 a 45 milhões de pessoas, tornando-se uma das maiores tragédias provocadas por políticas humanas na história.
A ambição de Mao
Após consolidar o regime comunista em 1949, Mao buscava modernizar a China rapidamente. Em 1958, ele anunciou o Grande Salto Adiante, cujo objetivo era industrializar o país e superar potências como o Reino Unido em produção de aço, além de eliminar a fome e transformar a economia agrária em socialista.
As medidas incluíram:
- Coletivização forçada: camponeses foram expulsos de suas terras e reunidos em comunas populares com milhares de pessoas.
- Produção de aço improvisada: milhões de fornos caseiros foram construídos, onde ferramentas, utensílios domésticos e até portas de casas eram derretidos para produzir aço — quase sempre de péssima qualidade.
- Planos agrícolas utópicos: práticas baseadas em “teorias científicas” sem fundamento, como plantios densos demais e eliminação de pássaros para “aumentar colheitas”, devastaram ecossistemas e reduziram ainda mais a produção de alimentos.

Fome e morte em escala nacional
A situação se agravou porque oficiais locais falsificavam números de colheita para agradar Mao. Com base nesses dados irreais, o governo confiscava grande parte da produção para exportar e financiar a indústria, deixando aldeias sem alimentos.
Entre 1958 e 1962, o país entrou em colapso. Estima-se que 30 a 45 milhões de pessoas morreram:
- A maioria de inanição severa, com relatos de famílias inteiras perecendo nas vilas.
- Milhões foram mortos em execuções ou trabalhos forçados, acusados de “roubar grãos” ou “sabotar o comunismo”.
- Casos de canibalismo foram documentados em regiões rurais.
Propaganda e silêncio
Enquanto isso, a propaganda comunista mostrava uma China próspera: cartazes exibiam campos férteis e siderúrgicas modernas, enquanto a população morria em silêncio. Criticar Mao ou as políticas do governo era considerado traição e podia custar a vida.

O legado sombrio de Mao
Mesmo após o fracasso, Mao não perdeu poder imediatamente. Sua imagem foi preservada pela propaganda estatal e, até hoje, ele permanece venerado por muitos chineses, com retratos em praças públicas e sua face estampando o yuan, a moeda oficial.
Historiadores consideram o Grande Salto Adiante a maior fome provocada por um governo na história moderna e um exemplo extremo dos riscos de regimes autoritários e centralizadores.
Uma lição para a história
O Grande Salto Adiante demonstra como decisões políticas baseadas em ideologia e propaganda, e não na realidade, podem levar sociedades inteiras ao desastre. É um alerta contra governos que concentram poder absoluto e suprimem críticas, independentemente da ideologia.
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