O atual cenário de tensão entre Israel e seus vizinhos no Oriente Médio tem raízes profundas. Para entender os confrontos de hoje — com Gaza, o Hezbollah no Líbano e até o Irã é preciso voltar a 1948, quando Israel surgiu como Estado moderno em meio ao caos.
No dia 14 de maio de 1948, após o fim do mandato britânico na Palestina, o líder judeu David Ben-Gurion declarou a independência do Estado de Israel. Em menos de 24 horas, cinco países árabes Egito, Jordânia (então Transjordânia), Síria, Líbano e Iraque — lançaram um ataque militar coordenado, rejeitando a criação do novo país e prometendo impedir sua existência pela força.
Começava a Guerra de Independência de Israel, ou a Primeira Guerra Árabe-Israelense, como é conhecida nos registros históricos. O conflito se estenderia até 1949 e moldaria para sempre o futuro do Oriente Médio.
Um país recém-nascido sob ataque
Naquele momento, Israel era uma nação recém-formada, com uma população de cerca de 650 mil judeus e um exército em formação, composto em grande parte por civis e sobreviventes do Holocausto. Enfrentava exércitos mais numerosos e bem equipados, mas compensava a desvantagem com organização, inteligência e apoio internacional — especialmente no fornecimento de armas, como as que vieram da Tchecoslováquia.
Os combates aconteceram por várias frentes:
- No sul, o Egito avançou com tanques em direção ao deserto do Negev, tentando cortar o país ao meio.
- No centro, tropas iraquianas cruzaram a Jordânia para atacar regiões controladas por Israel.
- No norte, sírios e libaneses tentaram ocupar partes da Galileia.
- No leste, a Legião Árabe da Jordânia lançou uma ofensiva feroz contra Jerusalém, resultando em combates intensos dentro da cidade.
As batalhas foram duras e, muitas vezes, urbanas. Jerusalém ficou sitiada, com combates casa a casa e dificuldade extrema para abastecimento. Tel Aviv sofreu bombardeios egípcios. Ainda assim, Israel resistiu e aos poucos passou da defensiva para a ofensiva.

Virada militar e armistício
Com reforços da diáspora judaica e avanços estratégicos, Israel conseguiu empurrar as tropas inimigas para fora de parte do território e capturar áreas além das definidas pelo plano de partilha da ONU, incluindo a maior parte da Galileia, o deserto do Negev e áreas da planície costeira.
Em 1949, foram assinados armistícios separadamente com cada país árabe invasor. Israel emergiu como uma nova realidade no mapa do Oriente Médio — reconhecido por algumas nações, rejeitado por outras, especialmente no mundo islâmico.
A Nakba e o início de um conflito duradouro
Para os palestinos, a guerra significou perda e deslocamento. Cerca de 700 mil pessoas foram forçadas a deixar suas casas, originando a Nakba, ou “catástrofe”, um marco doloroso para o povo palestino e uma das maiores crises de refugiados do século XX.
A guerra de 1948 não resolveu nada ela plantou as sementes de quase todos os conflitos que viriam depois. As hostilidades entre Israel e seus vizinhos árabes continuaram nos anos seguintes, culminando em novas guerras em 1956, 1967 e 1973, além de embates constantes com o Hamas, o Hezbollah e, mais recentemente, a crescente tensão com o Irã.
A criação de Israel e sua vitória inicial garantiram sua existência como nação, mas também deram início a uma disputa geopolítica e religiosa que segue viva até hoje. A independência conquistada em meio ao fogo cruzado segue cercada por ameaças externas e internas 75 anos depois.
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