O jornal britânico Financial Times destacou nesta terça-feira (12) a crise inédita entre Brasil e Estados Unidos após a imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. A publicação classificou o impasse como “sem precedentes” em mais de 200 anos de relações bilaterais e alertou para o risco de uma escalada no conflito.
Parte da tensão, segundo o periódico, tem ligação direta com Jair Bolsonaro, que enfrenta acusações de tentativa de golpe na Justiça brasileira. O ex-presidente rejeita ter cometido qualquer crime contra a democracia.
Seguido da mesma opinião, o governo americano justificou a aplicação das tarifas extras, anunciadas em 9 de julho, como uma resposta ao julgamento do Bolsonaro, que Donald Trump classificou como uma “caça às bruxas”.
Após o Supremo Tribunal Federal ignorar as críticas dos EUA, Trump declarou que o Brasil representava uma “ameaça incomum e extraordinária” à segurança norte-americana, oficializando a cobrança da tarifa. A medida foi parcialmente revertida, mas ainda afeta significativamente o comércio bilateral.
A situação se agravou com a imposição de sanções financeiras contra o ministro Alexandre de Moraes, aplicadas com base na Lei Magnitsky, que costuma ser usada em casos de graves violações de direitos humanos. Mesmo com as sanções, Moraes determinou a prisão domiciliar de Bolsonaro na semana passada, intensificando o conflito.
Steve Bannon, ex-estrategista de Trump, afirmou ao Financial Times que o ex-presidente americano mantém grande interesse no Brasil, vendo Bolsonaro como seu “par tropical” e associando o embate à defesa da liberdade e autonomia nacionais.
Além da relação com Bolsonaro, o jornal aponta que Trump tem criticado o Supremo Tribunal Federal por supostamente emitir “ordens de censura ilegais” contra empresas de mídia social, além de apontar um desequilíbrio comercial desfavorável aos EUA.
Especialistas ressaltam que Trump pode mudar sua postura caso consiga algum acordo que lhe permita declarar uma vitória. “Ele não se prende a lealdades e é rápido em mudar de lado”, afirmou Mônica de Bolle, do Instituto Peterson de Economia Internacional.
No curto prazo, o Financial Times prevê impactos negativos para os dois países. Apesar da lista de 694 produtos isentos, setores estratégicos como café, carne bovina, madeira, pescados e frutas continuam sujeitos às tarifas, tornando suas exportações para os EUA inviáveis.
Essa situação pressiona produtores brasileiros e aumenta a possibilidade de novas retaliações comerciais, aprofundando a crise nas relações entre as duas maiores economias do continente.
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