Entre 1932 e 1933, a Ucrânia foi palco de uma das maiores tragédias humanas do século XX. Milhões de pessoas morreram de fome não por causas naturais, mas por políticas deliberadas impostas pelo regime comunista da União Soviética, sob o comando de Josef Stalin. O episódio ficou conhecido como Holodomor, termo que, em ucraniano, significa “morte pela fome”.
Uma política planejada
Após a Revolução Russa, o governo soviético iniciou a chamada coletivização forçada da agricultura, abolindo a propriedade privada e transformando as terras em fazendas controladas pelo Estado. Na Ucrânia, região fértil e conhecida como o “celeiro da Europa”, muitos camponeses resistiram às imposições do regime.
A resposta de Stalin foi brutal. Tropas do regime confiscaram toda a produção agrícola ucraniana. Famílias tiveram seus estoques de alimentos saqueados, sementes foram levadas e até animais domésticos foram recolhidos. Quem tentasse esconder comida era preso, deportado para campos de trabalho ou executado sumariamente.
A fome como arma
Com as aldeias isoladas e os estoques esvaziados, iniciou-se uma fome sem precedentes. Há relatos de pessoas se alimentando de cascas de árvore, grama e até de casos confirmados de canibalismo, registrados pela própria polícia soviética.
Enquanto milhões morriam, a União Soviética continuava exportando grãos para outros países como forma de propaganda, para mostrar ao mundo a suposta “prosperidade” do regime comunista.
Estima-se que entre 4 e 7 milhões de ucranianos morreram durante o Holodomor, sendo 4 milhões o número mais aceito por historiadores.

Negação e memória histórica
Por décadas, a União Soviética negou a existência do Holodomor, censurando qualquer menção ao tema e perseguiu quem tentasse investigá-lo. Foi apenas após a queda da URSS, nos anos 1990, que documentos e testemunhos começaram a vir à tona.
Hoje, mais de 25 países reconhecem oficialmente o Holodomor como um genocídio, resultado direto de uma política totalitária que tratou vidas humanas como um preço aceitável para consolidar o poder de Stalin.
A lição deixada pelo Holodomor
O Holodomor não foi uma catástrofe natural. Foi um ato calculado, planejado e executado pelo Estado. É uma lembrança sombria de como regimes autoritários e ideologias dispostas a sacrificar indivíduos em nome de uma utopia podem gerar destruição em massa.
Relembrar o Holodomor não é apenas olhar para o passado. É compreender os perigos reais de qualquer governo que concentra poder absoluto e transforma a sociedade em instrumento de controle político custe o que custar.
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