O 17º Encontro Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) marcou simbolicamente a reinserção política da velha guarda do partido que foi alvo de algumas das principais investigações de corrupção da história recente do país: o escândalo do Mensalão, nos anos 2000, e a operação Lava-Jato, a partir de 2014.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez questão de citar nominalmente, logo no início de seu discurso, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, o ex-secretário de Finanças da legenda João Vaccari Neto e o ex-presidente do partido José Genoino. Os quatro são figuras centrais da trajetória do PT e enfrentaram condenações nos casos de corrupção.
“Nós precisamos, daqui para frente, reparar os erros que cometemos. Se a gente não comenta os erros, podemos continuar cometendo. Estou feliz que o companheiro Delúbio está presente nesta plenária. Acho extremamente importante a volta do José Dirceu à direção nacional, João Vaccari, Genoino”, afirmou Lula, arrancando aplausos de uma plateia que misturava lideranças históricas e novas gerações do partido.
Delúbio disse ao GLOBO estar “feliz de estar de volta” e que a fala do presidente “representa o resgate da política correta. Já Dirceu classificou o gesto como um ato de “justiça”.
“A sensação é de quem nunca saiu da militância, da vida partidária. Importante fazer justiça a quem foi injustiçado”, declarou o ex-ministro, que foi condenado no Mensalão e na Lava-Jato, mas teve suas penas posteriormente anuladas por decisões do Supremo Tribunal Federal.
Julgamentos e anulações
No escândalo do Mensalão, revelado em 2005, o Supremo Tribunal Federal condenou dirigentes do PT por envolvimento num esquema de compra de apoio parlamentar durante o primeiro mandato de Lula. José Dirceu, então ministro-chefe da Casa Civil, foi apontado como “chefe da organização criminosa” e perdeu seus direitos políticos. José Genoino e Delúbio Soares também foram condenados por corrupção e formação de quadrilha. À época, o julgamento foi considerado um marco na história da Corte, mas anos depois passou a ser reavaliado por juristas e historiadores, que apontaram excessos e motivações políticas.
Já na operação Lava-Jato, José Dirceu e João Vaccari Neto foram presos sob acusações de corrupção e lavagem de dinheiro no esquema de desvios na Petrobras. A operação foi inicialmente vista como um divisor de águas no combate à corrupção, mas foi posteriormente desmoralizada por revelações de parcialidade, conluio entre acusação e juiz, e irregularidades processuais. Em decisões mais recentes, o STF considerou a atuação do então juiz Sergio Moro como parcial e anulou diversas condenações, inclusive contra o próprio Lula, permitindo sua candidatura e eleição em 2022.
Com as anulações, petistas passaram a defender a “reparação histórica” dos atingidos. O encontro em Brasília foi, para muitos dirigentes, uma expressão concreta desse processo.
No próximo ano, Dirceu e Delúbio são tidos como candidatos a deputado federal. Questionado se pretende disputar uma vaga na Câmara dos Deputados em 2026, Dirceu desconversou:
“Meu foco agora é enfrentar o tarifaço. Eleição só no ano que vem”, respondeu.
O evento em Brasília foi também uma oportunidade para o PT reforçar sua identidade e tentar projetar unidade em meio aos desafios eleitorais de 2026. O novo presidente Edinho Silva tomou posse nesta manhã.
Em dia de protestos, Lula defende reeleição e a volta de condenados por corrupção à política:https://t.co/HbnQ4R3SFy pic.twitter.com/4oFSXrIE9n
— QB News (@qbnewsoficial) August 4, 2025
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