Durante visita oficial à China, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a se posicionar como articulador internacional em busca da paz entre Rússia e Ucrânia. Em conversa com jornalistas em Pequim, Lula afirmou que pretende interceder diretamente junto ao presidente russo, Vladimir Putin, para garantir a realização de uma reunião de negociação prevista para esta quinta-feira (15), em Istambul, na Turquia.
“Quando passar por Moscou, vou tentar falar com o Putin. Não me custa nada dizer: ‘Ô, companheiro Putin, vá até Istambul negociar essa porra’”, declarou o presidente brasileiro, em tom espontâneo. Antes de chegar à China, Lula esteve na capital russa para participar das comemorações dos 80 anos da vitória soviética na Segunda Guerra Mundial.
A declaração de Lula ocorre em um momento de expectativa internacional pela possível retomada de negociações diretas entre Rússia e Ucrânia — as primeiras desde 2022, quando as conversas foram suspensas poucas semanas após a invasão russa ao território ucraniano.
Apesar de o Kremlin ter sinalizado positivamente ao encontro, confirmando o envio de uma delegação à Turquia, ainda não há garantia de que Vladimir Putin estará presente. O próprio líder russo sugeriu a realização da reunião “sem quaisquer precondições”, mas não confirmou sua participação.
A incerteza sobre a presença de Putin levou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a exigir garantias. Segundo ele, a Ucrânia só participará das negociações se o presidente russo também estiver na mesa. “Só participaremos se Putin estiver presente”, afirmou Zelensky, endurecendo o tom diante da falta de clareza vinda de Moscou.
O apelo por mediação internacional cresceu após o chefe de gabinete da presidência ucraniana, Andrii Yermak, pedir ao Brasil que utilizasse sua influência diplomática para facilitar a realização do encontro. Lula respondeu à solicitação afirmando estar otimista com a retomada do diálogo: “Ao invés de trocar tiros, trocar palavras”, disse o presidente, destacando que negociações podem salvar vidas e preservar patrimônios.
Além do Brasil, os Estados Unidos também manifestaram interesse direto no processo. O presidente Donald Trump afirmou que poderá participar da reunião em Istambul, e caso não vá, enviará o secretário de Estado, Marco Rubio, e uma equipe de diplomatas. Trump defende um cessar-fogo de 30 dias e advertiu que poderá impor sanções secundárias à Rússia, caso perceba bloqueios no avanço das tratativas.
Segundo fontes da imprensa internacional, o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, e o assessor de política externa de Putin, Yuri Ushakov, estão cotados para representar Moscou no encontro.
Se confirmada, a reunião será a primeira entre líderes ou emissários de alto escalão dos dois países desde março de 2022, também na Turquia. O último encontro direto entre Zelensky e Putin ocorreu em dezembro de 2019.
Brasil e China divulgaram uma nota conjunta apoiando a retomada das conversas, classificando o diálogo como “a única forma de pôr fim ao conflito” e relembraram a criação, em setembro de 2024, de um “grupo de amigos” voltado a facilitar as negociações de paz entre os dois países.
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