Uma nova vistoria realizada pelo Conselho Regional de Medicina do Pará (CRM-PA) expôs mais uma vez a grave situação do Hospital Pronto-Socorro Municipal Mário Pinotti (HPSMMP), o popular “PSM da 14”, em Belém. A fiscalização, ocorrida na última segunda-feira (14), revelou um cenário de precariedade estrutural, insalubridade e um dado alarmante: cerca de 80 mortes por mês estão sendo registradas na unidade, número considerado acima do aceitável, segundo o conselho.
Esta é a terceira vez, em apenas um ano, que o CRM visita o hospital, e as condições seguem críticas. A equipe de fiscalização encontrou leitos enferrujados, goteiras, infiltrações, móveis danificados e ambientes sujos. Imagens feitas durante a vistoria mostram claramente o estado de abandono do espaço.
Além da estrutura deteriorada, denúncias apontam que profissionais da saúde estão trabalhando em condições precárias, com falta de materiais básicos e sob pressão. Alguns relataram atrasos no pagamento dos salários e jornadas exaustivas. O CRM classificou a situação como “grave” e alertou que a omissão dos órgãos responsáveis tem colocado pacientes e trabalhadores em risco constante.
Outro caso que chamou atenção é o de um paciente que morreu com suspeita de varíola dos macacos (Mpox). De acordo com denúncias, ele teria permanecido exposto em uma área comum do hospital por falta de espaço adequado para isolamento. A morte acendeu o alerta para a fragilidade da unidade em lidar com doenças infecciosas.
A equipe de reportagem não teve acesso ao interior do hospital, que permanece com entrada restrita. As imagens divulgadas pelo CRM e por pacientes são, até o momento, a única evidência visual das atuais condições do PSM da 14.
Em resposta, a Secretaria Municipal de Saúde de Belém (Sesma) informou que encontrou todas as unidades de saúde da capital em estado crítico quando assumiu a gestão e que o hospital da 14 de Março não foi exceção. A pasta afirmou que reativou contratos e negociou dívidas herdadas da administração anterior para retomar o abastecimento de insumos. Ainda segundo a Sesma, não há atraso nos pagamentos dos profissionais de saúde, que estariam sendo feitos conforme o calendário regular.
Leia a nota da SESMA na íntegra:
“A Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) de Belém informa que todas as unidades de saúde da capital foram encontradas, pela atual gestão, em condições críticas de deterioração, sem qualquer histórico recente de manutenção. O Hospital Pronto-Socorro Municipal Mário Pinotti (HPSM-MP), localizado na travessa 14 de Março, não foi exceção.
Como unidade de urgência e emergência de portas abertas, o HPSM- MP integra o Sistema Único de Saúde (SUS) e atende a todos que procuram o serviço, sem qualquer restrição, acolhendo pacientes não só de Belém, mas de diversos municípios do Pará, o que amplia significativamente sua demanda.
No dia 14 de abril, o hospital recebeu uma visita técnica do Conselho Regional de Medicina do Pará (CRM). A médica representante foi acompanhada pela equipe de direção da unidade, teve acesso completo às instalações e dialogou com os profissionais de plantão. Toda a documentação solicitada foi apresentada, como escalas médicas, número de cirurgias realizadas, quantidade de leitos operacionais, atendimentos por especialidade e registros mensais de atendimentos.
Quanto à estrutura física, o hospital está passando por melhorias pontuais, inclusive na Agência Transfusional, como parte do plano de requalificação da rede municipal de saúde.
Sobre o abastecimento de medicamentos e insumos, a Sesma esclarece que, nos últimos três meses, reativou contratos e negociou dívidas herdadas da gestão anterior. Com isso, o município sai do período de contingência e inicia o recebimento dos itens já comprados e pagos. A Sesma reforça que o desabastecimento é um problema anterior, mas que, a partir de agora, o fornecimento será regularizado, garantindo atendimento digno à população.
Sobre os salários dos profissionais, a Sesma esclarece que não há atrasos. Os pagamentos são realizados dentro do calendário regular, conforme previsto em contrato, sempre após o cumprimento das escalas de trabalho.
Em relação à segurança, o HPSM-MP conta com o apoio permanente de dois agentes da Guarda Municipal de Belém, responsáveis pela vigilância do prédio.
Quanto aos dados de atendimentos e mortalidade, entre janeiro e março de 2024, o Hospital Pronto-Socorro Municipal Mário Pinotti (HPSMMP) realizou um total de 35.134 atendimentos, sendo 10.854 em janeiro, 11.350 em fevereiro e 12.930 em março.
Nesse mesmo período, foram registradas 79 mortes em janeiro, o que representa 0,73% do total de atendimentos no mês; 74 óbitos em fevereiro, correspondendo a 0,65%; e 101 óbitos em março, o equivalente a 0,78% do total registrado.
No primeiro bimestre de 2025, o hospital contabilizou 21.152 atendimentos — sendo 10.479 em janeiro e 10.673 em fevereiro. Nesse período, foram notificadas 81 mortes em janeiro, o que representa 0,77% dos atendimentos do mês, e 84 em fevereiro, o que corresponde a 0,79% do total de atendimentos.”
O CRM informou que os dados e imagens coletados durante a última vistoria resultarão em um novo relatório, que será encaminhado ào Ministério Público e a Secretaria de Saúde para providências. Enquanto isso, quem depende do atendimento no hospital convive com o descaso.
Matéria completa:
Uma nova vistoria realizada pelo Conselho Regional de Medicina do Pará (CRM-PA) expôs mais uma vez a grave situação do Hospital Pronto-Socorro Municipal Mário Pinotti (HPSMMP), o popular “PSM da 14”, em Belém. A fiscalização, ocorrida na última segunda-feira (14), revelou um… pic.twitter.com/5yBGxEBG5r
— QB News (@qbnewsoficial) April 25, 2025
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