O presidente da França, Emmanuel Macron, insinuou nesta quinta-feira (24) que Israel “semeia a barbárie”, em réplica indireta a uma frase dita na véspera pelo premiê israelense, Binyamin Netanyahu. A declaração ocorreu em conferência internacional convocada pelo próprio Macron, na qual foram anunciados cerca de US$ 1 bilhão (R$ 5,7 bilhões) em ajuda financeira europeia ao Líbano.
“Nos últimos dias, tem-se falado muito em ‘guerra de civilizações’ ou que ‘é preciso defender a civilização’. Não tenho certeza de que se defende uma civilização quando você próprio semeia a barbárie”, disse Macron.
Era uma referência clara a uma entrevista de Netanyahu ao canal de TV francês CNews, próximo da ultradireita. O primeiro-ministro de Israel disse que a França tem que apoiar seu país na “guerra da civilização contra a barbárie”.
A relação entre os dois líderes azedou desde o início do mês, quando Macron defendeu a suspensão da venda de armas aos israelenses. A França não é fornecedora de armamentos para Tel Aviv. Netanyahu qualificou de “vergonha” a declaração do presidente francês. Macron reiterou, porém, o apoio “indefectível” da França a Israel.
Impotentes para obter um cessar-fogo, os países presentes ao encontro só puderam prometer auxílio monetário aos libaneses. A França anunciou o desbloqueio de EUR 100 milhões (R$ 615 milhões); a Alemanha, de EUR 96 milhões (R$ 590 milhões). EUA e Qatar, entre outros países e organizações, também prometeram contribuições. Do montante de US$ 1 bilhão, US$ 800 milhões devem ser destinados para ajuda humanitária, e US$ 200 milhões para o Exército libanês.
A chamada conferência internacional de apoio à população e à soberania do Líbano reuniu 53 países, além da França, e 20 organizações internacionais. Israel e Irã, protagonistas do conflito, não foram chamados.
Os convidados enviaram a Paris ministros e diplomatas. Além do próprio Macron, o único chefe de Estado presente foi o primeiro-ministro libanês, Najib Mikati. Ele pediu ajuda internacional para cuidar de 1,2 milhão de libaneses obrigados a deixar suas casas nas últimas semanas, o que qualificou de “crise humanitária sem precedentes”.
Mikati também solicitou auxílio financeiro para recrutar 8.000 soldados –necessários, segundo ele, para o cumprimento da resolução 1.701 das Nações Unidas, de 2006, que impede a presença de soldados de Israel ou do Hezbollah no sul do Líbano.
Os EUA mandaram ao encontro o secretário de Estado adjunto, Richard Verma. Na mesma hora, o titular da pasta, Antony Blinken, estava no Qatar, negociando um cessar-fogo. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, enviou à conferência um discurso em vídeo.
O Brasil foi representado em Paris pelo secretário de África e Oriente Médio do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Carlos Sérgio Sobral Duarte.
Entre as duas guerras mundiais do século 20, os franceses administraram o Líbano, por decisão da Sociedade das Nações, precursora da ONU. Esse período deixou fortes marcas na cultura libanesa, onde o francês ainda hoje é uma espécie de “segunda língua”. Mais de 20 mil franceses vivem no Líbano.
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