A carestia alimentar, que praticamente definiu o Brasil dos anos 1970 e 1980, de inflação galopante, voltou a assombrar os brasileiros. Quem tem emprego no país e voltou ao “velho normal” (sai para trabalhar todos os dias e precisa comer fora de segunda a sexta-feira) paga, no mínimo, R$ 40 para ter direito a um almoço completo — prato principal, sobremesa, bebida e cafezinho. Ao fim do mês, o desembolso será de cerca de R$ 800 pelas refeições durante os 20 dias de serviço.
A quantia, equivalente dois terços de um salário mínimo, representa 35% da renda média do trabalhador no país. Se somadas as despesas com a cesta básica, ele terá despendido 60% dos seus ganhos mensais com comida.
Os dados são da pesquisa +Valor, realizada pela Ticket, fornecedora de vales para alimentação e refeição com base em informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que estipula em cerca de R$ 2,5 mil a renda média mensal do trabalhador no Brasil, e do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que calcula o preço da cesta básica, atualmente em torno de R$ 780.
O levantamento também analisou dados do valor médio da cesta básica que, em junho, chegou ao preço de R$ 652,35, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Assim, a soma dos gastos dentro e fora do lar é de R$ 1.546,43, correspondendo a 60,6% do valor dos rendimentos mensais dos brasileiros.
A pesquisa também foi dividida por capitais, considerando a média salarial nacional. Os gastos com alimentação alcançam maiores proporções em Florianópolis (SC), com 70,6% (cesta básica a R$ 772,07 e o custo da refeição completa fora de casa por 22 dias úteis custa R$ 1028,50). Já Fortaleza (CE) é a metrópole na qual a população compromete a menor porcentagem de seus salários, com 50,2%. A cesta básica cearense custa, em média, R$ 628,46 e o custo para a refeição fora de casa é de R$ 652,30 por mês.
O diretor-geral da Ticket Felipe Gomes diz sobre a pesquisa que “os resultados da Pesquisa +Valor só reforçam a importância de as empresas oferecerem benefícios de alimentação e refeição aos seus empregados e de revisar periodicamente os valores, para que acompanhem os custos do mercado”.
“Além de serem importantes complementos na renda dos colaboradores, aumentando o seu poder de compra, principalmente diante do cenário de crise econômica, também contribui para a introdução deles à nutrição equilibrada e de outros hábitos saudáveis no dia a dia”, acrescenta Gomes sobre os lados positivos de oferecer tais benefícios para os funcionários.
‘Abaixo a carestia, a panela está vazia’
Com o aumento do custo de vida, movimentos contra a carestia, comuns há 40 anos e que chegaram a reunir 20 mil pessoas em protestos no centro de São Paulo à época, estão ressurgindo em algumas cidades da Bahia, de Rondônia e do Espírito Santo. De fevereiro de 2020 a junho deste ano, a cesta básica ficou 50% mais cara no país.
Comentários